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sexta-feira, abril 26, 2024

Nova Veneza: cidade respira e exala a italianidade

Gustavo Milioli
Nova Veneza

“Da Europa então saiu; Num navio em alto mar; Tanta gente pro Brasil; Pra nesta terra morar”. A primeira estrofe do hino de Nova Veneza mostra que a cidade orgulha-se das próprias raízes. Nesta terça-feira, 21 de junho, a localidade fundada em outubro de 1891 por imigrantes italianos comemora 64 anos de emancipação.

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Se hoje Nova Veneza está entre os destinos turísticos mais visados do Sul do Estado,
o mérito passou por muitas mãos diferentes. Uma parcela importante está atrelada
justamente aos colonizadores, que chegaram de um país distante e desbravaram
uma terra desconhecida. Foram aproximadamente 450 famílias, sobretudo oriundas
da região do Vêneto. Os imigrantes se instalaram em 28 de outubro de 1891 e deram
início a toda a história.

Nem tudo eram flores na chegada. Longe disto. Depois de uma jornada longa e desgastante, atravessando o Oceano Atlântico a bordo de um navio, os italianos perceberam que o Sul do Brasil não era aquilo o que haviam prometido a eles.

“Desde a época do Brasil Império, começou a ocorrer as contratações não apenas de mão de obra, mas também para o povoamento. O Brasil precisava, pela sua extensão geográfica, de habitantes e trabalhadores. Começou-se a busca pelos imigrantes, que não eram pessoas com dinheiro, bem instruídas. Eram essas pessoas de países europeus que estavam em situação ruim financeiramente. Eles receberam uma outra imagem dos destinos. A primeira colônia italiana foi em Azambuja, em 1877, e a última foi a de Nova Veneza, em 1891. O Brasil havia acabado de se tornar república”, explica Aroldo Frigo Junior, vereador de Nova Veneza, estudioso da história do município e que neste mês recebeu a honraria Ordinedella Stella d’Italia, Grado Cavaliere, do Governo da Itália.

Realidade
Os colonos precisaram pagar pelos lotes e encararam muitas dificuldades. Nem tantas quanto os conterrâneos que povoaram Azambuja 24 anos antes. “Como a colônia de Azambuja já havia sido povoada primeiro, aqui a coisa foi um pouco mais fácil. Não chegaram sozinhos em uma mata desconhecida onde não tinha nada, precisando
confrontar os índios xoklengs. Eles já tinham um pouco das instruções. Os daqui também passaram por necessidades, mas já vieram com mais informações. Já tinham uma civilização social.”

Os pilares do desenvolvimento
Hoje, a cidade conta com uma economia diversificada, mas, no início, tudo era baseado
na agricultura, com as famílias tirando do campo o próprio sustento. “O maior plantio era o de arroz, mas eles colhiam de tudo, até para o consumo do lar. Os imigrantes também utilizaram o ramo madeireiro. No Morro da Miséria, hoje conhecido como Caravaggio, a terra não era muito fértil, por isso lá despontou o setor metalmecânico, que hoje é o polo industrial da cidade”, pontua.

Frigo lembrou que, mesmo com a logística não sendo das mais atrativas, a cidade conseguiu cativar a vertente empreendedora, sendo, hoje, sede de grandes empresas, que geram empregos renda e tributação. “Nova Veneza era o fim. O desenvolvimento industrial foi persistente, porque a localização não favorecia. Hoje, as indústrias querem uma logística mais próxima da BR-101 para escoar as produções, mas a realidade é que estamos no final do caminho, ao lado da Serra. Se hoje temos grandes empresas nas áreas da confecção, agroindústria e metalúrgica, é porque essas famílias batalharam firmes e fortes pelo próprio futuro”, observa.

A venda do ‘nome’ pelo Brasil afora
Nova Veneza virou uma marca reconhecida nacionalmente. A cidade atrai visitantes de todas as partes do Brasil e até do exterior. Nem sempre foi assim. O trabalho para ‘vender o nome’ da cidade começou há aproximadamente 15 anos, quando o poder público municipal percebeu que o potencial turístico estava bem abaixo do próprio nariz.

“Em meados de 2006, o então prefeito Rogério Frigo começou a propagar a italianidade. Por ser um município de 90% de descendentes de italianos, à época, com mais de 2 mil habitantes com cidadania europeia, ele começou a fazer a participação público-privada. Fazer rodar o nome da cidade e as pessoas virem até aqui. Foi quando lançou a Festa da Gastronomia, trouxe o único Carnevale di Venezia fora da Itália, conseguiu a única gôndola
da América do Sul. Tudo isso foi uma projetação, mas os comércios e a rede hoteleira precisavam incorporar o espírito, se modernizando”, recorda.

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