Tiago Monte
Praia Grande
A última etapa para que a região dos Cânions do Sul passe a ser reconhecida como Geoparque Mundial da Unesco começa na sexta-feira. Até o dia 16 de novembro, terça-feira, dois avaliadores, um de Portugal e um do México, passarão pelos sete municípios (quatro de SC e três do RS) que fazem parte do território. O roteiro inclui visita aos principais geossítios, atividades culturais, reuniões técnicas com prefeitos, comitê científico e equipe do Consórcio Intermunicipal Caminhos dos Cânions do Sul, responsável pela gestão do Geoparque.
As cidades de Jacinto Machado, Morro Grande, Praia Grande, Timbé do Sul, Cambará do Sul (RS), Mampituba (RS) e Torres (RS) receberão os jurados internacionais. O território do Projeto Geoparque Cânions do Sul é formado por uma área total de 2.830 km2 e cerca de 74 mil habitantes.
O Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul é considerado oficialmente candidato ao título. Isso é resultado de um trabalho que começou em 2007 e avançou nos últimos anos. Em 2019, o Consórcio enviou o dossiê de candidatura, que foi avaliado e aprovado pela Unesco. Por isso, o território receberá, a partir do dia 12, a missão de avaliação. “Estes avaliadores estarão percorrendo todos os sete municípios para observar in loco o nosso trabalho. O objetivo é verificar se estamos de fato atuando de acordo com as diretrizes do Programa de Geoparques da Unesco que envolve principalmente temas como: a valorização do nosso patrimônio geológico e cultural, a educação e o turismo sustentável”, destaca o Diretor Executivo do Geoparque, Gislael Floriano.
O resultado sobre a avaliação sairá no próximo ano. O relatório produzido pelos avaliadores será decisivo para que o Conselho de Geoparques da Unesco possa concluir a cedência ou não do título. Ao receber oreconhecimento, o Geoparque Cânions do Sul passará a fazer parte da Rede Global de Geoparques, o que representa principalmente novas oportunidades de divulgação internacional e consequente valorização do turismo sustentável na região, entre outros benefícios.
Esta será a primeira chancela da Unesco em Santa Catarina e o maior geoparque do Brasil. Esse reconhecimento permitirá também acessar fundos monetários internacionais no futuro.
O que, de fato, é um Geoparque
Geoparque é um território com limites bem definidos, que apresenta uma estratégia de desenvolvimento sustentável onde locais de relevância geológica internacional, assim como outros bens naturais e culturais da região, são promovidos com foco na conservação da natureza, na educação para a sustentabilidade e no desenvolvimento econômico, em especial, através do turismo.
Ao ampliar a conscientização sobre a relevância destes locais que registram importantes momentos da história geológica da Terra, aliados à diversidade histórica e cultural das populações que ali vivem, os geoparques fortalecem a identificação das pessoas com este território, estimulando novas oportunidades de desenvolvimento econômico sustentável através da interação responsável com o meio em que vivem.
Uma ampla biodiversidade no local
A imponente biodiversidade das encostas da serra enriquece o cenário. É caracterizada por uma vegetação perenifólia (sempre verde) densa com muitas samambaias, orquídeas, palmeiras e árvores que podem atingir 50 m de altura. Nas porções mais altas, ocorrem Matas de Araucárias e nas porções da planície encontra-se a Mata Paludosa. Toda esta diversidade constitui o Bioma Mata Atlântica, onde a fauna é bastante rica com número significativo de espécies endêmicas.
O território do Geoparque Cânions do Sul tem sua história geológica iniciada há aproximadamente 250 milhões de anos, registro final dos episódios de preenchimento da bacia do Paraná e sua relação com o rompimento do supercontinente Gondwana e abertura do Oceano Atlântico Sul. O resultado desta evolução geológica hoje pode ser visto nas rochas e nas formas de relevo desta região que, com o passar do tempo, sofreram a atuação dos processos internos e externos da dinâmica da Terra.
Hoje, destaca-se na paisagem do Sul do Brasil, esta feição de grande expressão conhecida como Serra Geral, que se configura como a maior cadeia de cânions da América Latina. Formada por um prolongado e sinuoso escarpamento, limita dois compartimentos – o planalto e a planície costeira – se estende por mais de 200 km de extensão e apresenta desníveis que atingem os 1000 metros, localizados a menos de 50 quilômetros do mar, aonde um vigoroso processo de dissecação vem atuando ao longo do tempo, esculpindo sucessões de cânions muito profundos e de singular beleza, repletos de quedas d’água e piscinas naturais.
