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segunda-feira, maio 19, 2025

Fé e superação marcam o Dia da Santa Bárbara e a história dos mineiros

Vercidino Francisco Galvão fez promessa para sair com vida após a explosão da mina de Santana

Criciúma

Edson Padoin

Hoje, a cidade de Criciúma celebra o dia de Santa Bárbara, padroeira local, cuja história de fé e coragem ressoa nos corações dos fiéis. A devoção à santa tem raízes profundas na comunidade, especialmente entre os mineiros, para quem Santa Bárbara se tornou não apenas um símbolo de proteção espiritual, mas também uma guia em momentos de adversidade. Além do município, Siderópolis, Lauro Müller, Treviso e Forquilhinha também comemoram a data.

Filha de pais pagãos, Santa Bárbara encontrou a luz do cristianismo ao observar a beleza da natureza. Nascida na Nicomédia, Bitínia (atual Turquia), ela se converteu ao cristianismo e, diante da perseguição, manteve-se firme em sua fé, mesmo diante da tortura pública. Por conta disso, seu pai Dióscoro a degolou na frente de todos. Após o ato, um raio riscou o céu e um enorme trovão foi ouvido pelo povo. Para o assombro de todos, o corpo de Dióscoro caiu no chão sem vida, atingido pelo raio.

Hoje, Santa Bárbara é venerada como a padroeira dos mineiros, sendo invocada por aqueles que enfrentam riscos constantes nas atividades subterrâneas. Sua devoção é especialmente forte na região Sul, onde a fé na Santa se entrelaça com a história da comunidade mineira. Além disso, ela ganhou o status de protetora contra relâmpagos e tempestades.

Fé que salva vidas

Em 10 de setembro de 1984, a comunidade de Santana, em Urussanga, foi abalada pelo maior acidente carbonífero da região, deixando 31 mortos. Entre os sobreviventes está Vercidino Francisco Galvão, um mineiro aposentado que testemunhou a tragédia e atribui sua sobrevivência à fé em Santa Bárbara.

“O acidente não me matou porque eu estava sentado na parede tomando um café e escorado na parede. Quem estava perto de mim desapareceu. Depois da explosão veio aquela fumaça e próximo tinha um amigo que ainda estava vivo. Nesse momento nós orávamos para Santa Bárbara nos ajudar para conseguir sair daquele local. Depois de um tempo eu achei uma poça de água e eu usava para molhar a camiseta para respirar melhor. Isso com certeza foi uma ajuda que a Santa mandou”, conta emocionado.

A devoção pela Santa veio de herança dos pais de Vercidino. “Quando era criança, dava um relâmpago muito forte e gritava por Santa Bárbara. Foi uma devoção que a família sempre teve”, explica.

Após horas esperando pelo resgate, o mineiro foi encontrado pelo Corpo de Bombeiros e retirado dos escombros da mina. Mesmo assim, Vercidino decidiu voltar para o local. “Eu estava inconformado com a situação, por isso decidi voltar para ajudar no resgate dos corpos dos meus amigos que estavam na mina. O que eu vi lá eu nunca vou esquecer, vai morrer comigo. É algo que nunca sai da tua cabeça”, salienta.

Além de sua própria salvação, Vercidino cumpriu uma promessa feita a Santa Bárbara durante o incidente, adotando uma criança após o evento. “Voltar para minha casa foi um alívio. Foi a mesma coisa de ir para a guerra e voltar novamente para a família. Ainda quando eu estava na mina, eu fiz uma promessa para Santa Bárbara. Se eu tivesse vida, iria adotar uma criança para totalizar oito filhos. Depois disso comecei a procurar essa criança até que encontrei. Hoje, ela é casada e tem dois filhos”, completa cheio de felicidade.

Celebração religiosa em Criciúma

Em Criciúma, a celebração iniciou ontem com o desfile da imagem da Santa por diversos bairros. Hoje, dia da Santa, a paróquia terá missas às 8h, 10h e 17h, além de um almoço comemorativo no salão da igreja. A comunidade se reúne para celebrar a devoção, agradecer as graças alcançadas e lembrar a importância da fé, especialmente nos momentos mais difíceis. O Padre Wilson Buss, pároco da igreja de Santa Bárbara em Criciúma, destaca a importância da fé e testemunho cristão. “Quando falamos de uma festa religiosa, é sobre alguém que testemunhou a fé em Jesus Cristo. Isso inspira a vivência da fé. É muito comum eu ouvir de mineiros aposentados que entravam nas minas da região e sentiam a presença dela e de deus”, conta o pároco.

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