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terça-feira, setembro 26, 2023

Içara: quinze anos de uma saudade que não tem fim

Maíra Rabassa
Içara

Toda perda é desesperadora, ainda mais quando é de forma abrupta, sem ter a chance de se despedir de quem se ama. E, somente esse ano – de janeiro a 17 de maio – 24 pessoas morreram nas vias da região, de acordo com o Instituto Geral de Perícias (IGP). Destas, nove vítimas foram do município de Criciúma. Uma média de mais de uma morte por semana no trânsito da Região Carbonífera.

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Os anos vão e vem, mas para a podóloga, Mariany Pereira, 29 anos, os 15 anos de saudades que sente pelo pai não tem cura. Moradora de Içara, a jovem perdeu o pai ainda muito nova, aos 13 anos. Deoclesio da Silva Machado (Ezio), tinha 42 anos, era motorista de caminhão, e morreu no dia 15 de novembro de 2006 em um acidente grave de trânsito na SC-445, na localidade de Pedreira, em Içara.

Ezio, como era chamado pela família e amigos, era pai de mais três filhos: Maycon Pereira Machado, que hoje tem 34 anos; Danielly Pereira Machado, com 22 anos atualmente; e Ana Laura Machado, 16 anos, que na época tinha apenas oito meses de vida. De acordo com Mariany, Ezio estava na casa da mãe (sua avó paterna, dona Leopoldina), quando recebeu a informação que a filha caçula Ana Laura – de outra relação do pai – estava muito doente e com febre. “Ele havia chego de viagem naquele dia e passou a tarde na casa da vó. Me ligou umas 20h30 dizendo que no outro dia iria ver eu e a minha irmã Dani”, recorda a jovem.

Foi quando o pai de Mariany resolveu levar o remédio para a filha mais nova. “Quando ele estava descendo o morro da Pedreira, lá embaixo, tinha um redutor de velocidade, logo depois tinha uma saída da garagem de uma casa. Quando o pai passou o redutor o homem estava saindo de ré e invadiu a pista que ele estava vindo. Apesar de estar com a velocidade reduzida por causa do redutor a moto bateu. Ele teve traumatismo craniano e traumatismo tórax. Morreu na hora”, relata Mariany emocionada.

“Sinto falta dele me chamando de Petinha, tocando violão e eu ao lado cantando”

Como fazer com que a saudade por quem partiu seja suprida? A humanidade ainda não encontrou uma resposta. Alguns dizem que o tempo ameniza, mas as lembranças seguem intactas, como é o caso de Mariany, que lembra que o que mais sente falta do pai é dele a chamando de Petinha e tocando violão.

“Sinto falta dele me chamando de Petinha, tocando violão e eu ao lado cantando, andando de caminhão, nossos domingos na praia”, comenta a filha de Ezio. Uma das músicas que eles cantavam juntos era “Convite de Casamento”, da dupla sertaneja Gian e Giovani. “Com letras douradas em um papel bonito, chorei de emoção quando acabei de ver… Um cantinho rabiscado no verso, ela disse meu amor eu confesso… estou casando mais o grande amor da minha vida é você, essa era a música que não podia faltar’.

Foto: Nilton Alves/TN

A podóloga conta ainda que o pai era um homem alegre, amigo de todo mundo, honesto e muito trabalhador e, que com o tempo, ela aprendeu que ele não vai mais voltar. “O tempo foi me ensinando que ele não volta nunca mais, sempre que sonhava com ele era que estava voltando e eu acordava com muita raiva… Psiquiatra me explicou que era uma das etapas do luto e que poderia levar até 25 anos para aceitar. Na semana que fiz aniversário em março eu sonhei e acordei com o coração cheio de amor acho que chegou a parte que eu aceitei”, diz com os olhos em lágrimas.

Na espera por justiça

Até hoje a família de Mariany Pereira não foi indenizada pela morte do provedor da casa. Ela revela que acionaram na Justiça o motorista que colidiu com a caminhonete na moto do pai. Ele ainda tentou recorrer da decisão, mas os juízes deram causa ganha para os filhos e esposa, Maria Ileia Pereira Machado, hoje com 53 anos, do lar.

Porém, eles não receberam nenhuma indenização até agora. O motorista deveria pagar uma pensão até que Ezio completasse 70 anos para a esposa, e outras quatro pensões para os filhos até que as crianças completassem 21 anos. “Ficamos quatro filhos sem o pai por causa da pressa de um homem para tirar o carro da garagem. O pai morreu por besteira e ninguém pagou por isso, nem a carteira de motorista o homem perdeu”, desabafa a filha. Além disso, foi feito um levantamento do valor que o homem deveria pagar para os herdeiros, mas a justiça não tem como bloquear pois ele não tem bens no seu nome”, ressalta Mariany.

Campanha foca em condutores de moto

Maio foi definido por meio da Resolução 871/2021 como Maio Amarelo para chamar a atenção da população sobre a segurança no trânsito. Neste ano, o tema “Juntos salvamos vidas” traz a ideia de que todos podem ajudar nesta causa, seja qual for o meio de transporte escolhido.

“O que protege a vida de todo motorista é respeitar as regras de trânsito, a sinalização. Temos assistido tantas tragédias que marcam para sempre a vida de milhares de pessoas, E, ao mesmo tempo, sabemos que a grande maioria das ocorrências poderiam ser evitáveis”, alerta a presidente do Detran/SC, delegada Sandra Mara Pereira.

Neste mês, a campanha pretende focar na conscientização dos motociclistas. Somente em Santa Catarina, são mais de 2,3 milhões de motoristas habilitados em conduzir motocicletas. A maioria deles têm entre 20 e 39 anos e 69,71% são do sexo masculino.

Motociclistas cometem uma média de 700 infrações por dia em SC

Conforme os dados das estatísticas de infrações do Detran/SC, nesses primeiros quatro meses do ano, foram cometidas 87.360 infrações de trânsito por motociclistas, uma média de 700 por dia. Os municípios que mais registram essas ocorrências são: Balneário Camboriú, Florianópolis, Chapecó, Criciúma e Joinville.

A maioria das infrações está relacionada a transitar em velocidade superior à permitida, conduzir a motocicleta em desacordo com a legislação, dirigir sem calçado ou sem a atenção e cuidados necessários à segurança. “Por isso reiteramos o alerta aos motociclistas, que sim, vocês podem salvar uma vida, a sua ou a de outra pessoa apenas seguindo as normas de trânsito”, lembra a presidente do Detran/SC.

Carros batidos para conscientizar motoristas

Desde o último dia 11 de maio, o município de Içara está em campanha para o trânsito mais seguro. Vários carros batidos estão espalhados pela cidade com faixas educativas a fim de chamar a atenção dos condutores sobre a importância do Maio Amarelo.          Além disso, várias palestras foram realizadas para profissionais e escolas. “Nosso país possui um grande índice de acidentes de trânsito todos os dias, por isso a importância de conscientizar as pessoas sobre velocidade, imprudência, atenção e demais questões”, disse o chefe do departamento de trânsito da prefeitura de Içara Willian Acordi.

Os motoristas e as escolas também vão receber palestras de conscientização, nesta segunda-feira, 23, a escola Quintino Dajori recebe a palestra. No dia 25 é a vez dos alunos da escola São Rafael, já no dia 27 o evento será no Quintino Rizzieri. Todas as palestras são proferidas pelas das forças de segurança.

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