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Criciúma
terça-feira, maio 7, 2024

A luta pela vida dos animais

Maíra Rabassa
Thaís Borges/Especial
Portal TN SUL
Criciúma

Senhor que tu colocaste no mundo os animais para nos ensinar coisas sublimes, como amor incondicional e, por este amor, que peço por essa criaturinha de quatro patas que está enfermo se reabilitar e que tenha menos dores com a tua ajuda, pela tua graça!”, trecho de uma das orações de São Francisco de Assis, que reflete a realidade de luta das ONGs de animais da região de Criciúma. É por amor que homens e mulheres dos 12 municípios da Amrec se entregam na batalha pela sobrevivência de animais abandonados nas ruas das cidades.

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Não basta ver o sofrimento do bichinho doente ou ferido, mas também lidar com os custos financeiros de toda essa obra de amor ao próximo. E sem dinheiro não é possível ter a cura. Os tempos mudaram, as sociedades começaram a olhar a causa animal com mais empatia. Porém, os valores devidos pelas entidades é um empecilho para poder seguir na luta pelos indefesos. O Portal TN SUL fez um levantamento com as principais ONGs da região e a soma total que elas devem em remédios e cirurgias em clínicas veterinárias ultrapassam a quantia de mais de R$ 214 mil.

Mesmo com o apoio do poder público – com mutirões de castrações, a demanda é muito grande e as entidades estão saturadas. E com a pandemia essa situação se agravou ainda mais, pois ficou notório para os voluntários o aumento de animais abandonados. São ninhadas de filhotes, ou fêmeas grávidas, bichos atropelados, ou doentes, ou apenas jogados fora como um objeto que não serve mais para as pessoas. 

 

O árduo trabalho voluntário 

As demandas não param na região. E esse é o caso do município de Forquilhinha, onde a maior ONG da cidade está com R$ 30 mil em dívidas. Desde a sua fundação em 2016, a Amigo Fiel já resgatou, castrou e doou mais de 1.600 animais. “Nossas maiores dificuldades são financeiras e conseguir lares temporários para os animais ficarem após os resgates e até serem adotados”, comenta Morgana Hoepers, tesoureira da entidade. “Às vezes deixamos de resgatar por não ter dinheiro. Mas, muitas vezes por não ter onde colocar depois”, desabafa Morgana.

Morgana Hoepers, tesoureira da ONG Amigo Fiel, de Forquilhinha fala sobre situação: 

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A voluntária Hérica Felisberto, presidente da MAPA (Mãos que Ajudam, Patinhas que Agradecem) – de Nova Veneza, conta com o apoio do município para mutirões de castrações. O primeiro foi em 2015, e só neste ano mais de 155 procedimentos já foram realizados. Atualmente a ONG abriga 50 bichinhos em lares voluntários. “Abandono é o principal crime que assola as ONGs de proteção animal e os voluntários independentes”, destaca Hérica.

Hérica Felisberto, presidente da ONG MAPA, de Nova Veneza comenta: 

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Em Treviso, menor município da região de Criciúma, a situação de abandono de animais também não é diferente. Nos últimos quatro anos foram castrados 430 animais. Para conseguir “bancar” os custos dos tratamentos, a ONG SOS Quatro Patas busca os recursos através de rifas e jantares. “Agora com a pandemia estamos no vermelho”, enfatiza Margarete Anelli Antoneli, presidente da instituição. “Fizemos um levantamento na cidade e hoje Treviso tem mais de 500 animais, entre cães e gatos, que esperam por castração”, revela Margarete.

Margarete Anelli Antoneli, presidente da ONG SOS Quatro Patas, de Treviso, afirma:

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Histórias marcadas pelo amor aos bichinhos

Sendo dona de um salão de beleza por 28 anos, Edsania Tavares, 42 anos, largou a profissão e há dois anos se dedica à causa animal através da Rede do Bem, organização que ela criou e que está prestes a se tornar uma ONG  em Cocal do Sul. Ao todo, 1.800 animais foram resgatados e doados pelo grupo. 

“As clínicas entendem a situação e não deixam de atender por conta da dívida”, destaca Edsania


Edsania revela que também atende Criciúma e que é uma cidade com muitos casos de abandonos de animais.  “Todo dia resgato animais, principalmente em Criciúma, que é recorde”, conta Edsania. De acordo com ela, os preços sempre dobram toda que vez chegam novos casos para atender. “As clínicas entendem a situação e não deixam de atender por conta da dívida”, destaca. Para a protetora, os municípios são invisíveis quando se trata de causa animal. “Criciúma tem o Núcleo, mas não faz nada. Tem carro de resgate, mas não resgata. Ter e não ser é complicado”, reclama Edsania.

Confira o áudio de Edsania Tavares, voluntária da Rede do Bem, de Cocal do Sul:

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Já em Criciúma, a ONG SOS Vira Lata, que tem título de utilidade pública no município, atua como uma intermediadora de ajuda, que faz campanhas para pagar dívidas de casos específicos, consegue descontos em clínicas para pessoas que ajudam animais de rua, fornece ração e não mantém bichinhos em canil. “A gente entende que vira um depósito”, conta inconformada 
Georgia Feltrin Rosa, presidente da ONG. “A gente tem dívidas mensais com as clínicas. Então todo mês temos que acertar alguma coisa. A gente toma muito cuidado pra ela não crescer”, explica Georgia, que ainda alega que “todo valor que entra na conta da ONG  é oriundo de doações de pessoas físicas”.


A Amigo Bicho é uma ONG  de Içara que está com uma dívida atual de R$ 39 mil em clínicas. Vi
tor Valentim, presidente e diretor da entidade içarense, admite que a pandemia refletiu no aumento das dívidas das ONGs. “O abandono aumentou demais. Com as pessoas mais em casa, cresceram o número de denúncias e maus-tratos. Nosso trabalho aumentou muito e, na contramão disso, as doações, pedágios e eventos, tudo isso diminuiu”, desabafa preocupado Valentim.

Vitor Valentim, presidente da ONG Amigo Bicho, de Içara, faz desabafo:

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Ações do poder público

A causa animal também faz parte da política pública dos municípios da região. Todas as cidades da Amrec têm ações voltadas para o bem-estar dos bichos e uma das mais realizadas é o mutirão de castração. Em Nova Veneza, por exemplo, o município, além das castrações, também faz trabalho junto às comunidades para fiscalização de maus-tratos. Em Forquilhinha, só em 2021, já foram realizadas mais de 300 castrações de animais de rua.

Em Treviso, as castrações também são uma realidade, assim como a vacinação dos bichinhos em mutirões para doenças como a raiva, cinomose, adenovírus tipo 2, parainfluenza, parvovirose, coronavirose e leptospirose. No município de Morro da Fumaça também é feita a microchipagem dos animais encaminhados para a castração e, recentemente, foi criado o Fundo do Bem-Estar Animal para incluir outras ações voltadas a essa atividade.

Orleans tem um canil administrado pela Fundação Ambiental Municipal, que está em processo de desativação e, onde estão em torno de 30 cachorros. Nesse canil, uma pessoa fica responsável por alimentar esses animais e manter o local higienizado. Um médico veterinário auxilia com medicamentos e também são realizadas castrações para pessoas de baixa renda inscritas no CadÚnico.

“Entendemos que um canil não é o lugar adequado para que os animais permaneçam. O ideal é a conscientização das pessoas para que não os abandonem. Não temos uma previsão de desativação, mas estamos trabalhando para que em um futuro próximo, os animais no canil sejam adotados, e que, desta forma, não tenha mais a necessidade do mesmo”, conta Marcos Ricardo Martins, secretário da Administração da Prefeitura de Orleans.

No Balneário Rincão também é feito o controle de reprodução através de castração gratuita para famílias de baixa renda

 

Bem-estar dos pets é prioridade nas cidades

No Balneário Rincão também é feito o controle de reprodução através de castração gratuita para famílias de baixa renda, ONG e protetor independente. Já em Cocal do Sul existe uma parceria com os protetores de animais do município, que abrigam pets em lares temporários até que eles sejam doados. O governo faz castrações em animais abandonados para famílias de baixa renda ou para as pessoas que adotam animais de rua. 

Na cidade de Criciúma, o Núcleo de Bem-Estar Animal (NBEA) é um novo setor destinado ao cuidado dos pets. Com dois anos de atuação no município, o local oferece atendimentos de baixa complexidade como machucados que necessitam de ataduras e limpeza. O local também faz microchipagem, consultas para avaliação clínica geral, vacinação, vermifugação e recebe denúncias de maus tratos. 


Além disso, o NBEA oferece castração para famílias em vulnerabilidade social. “
Desde a inauguração do núcleo, já passaram mais de 18 mil pessoas para diversos tipos de atendimentos”, revela Elias Pereira, coordenador do núcleo. Foram castrados 9 mil cães e gatos na cidade. “O objetivo principal é o controle populacional de animais através de castração em massa e erradicação de maus tratos”, conclui Elias.

Castrações diárias são realizadas pela Fundação Municipal do Meio Ambiente de Içara, que possui um Centro de Castração, onde realiza o atendimento para a população todos os dias e reserva um percentual das castrações para as ONGs  e protetores de animais da cidade. 

A Fundação do Meio Ambiente de Siderópolis recebe denúncias de maus-tratos, realiza atendimentos simples e intermedia castrações em parceria com a Iddasi (Instituto de Defesa dos Direitos dos Animais de Siderópolis), ONG da cidade. O Combea (Conselho de Bem-Estar Animal) de Urussanga também tem parceria com a Unibave e que visa a castração, chipagem e atendimentos clínicos cirúrgicos. Além dessa parceria, o Combea realiza mutirões de castração, adoção voltados para animais de rua.

Existem inúmeros crimes ambientais, que visam proteger tanto a fauna como a flora. Esses crimes e penas variam, podendo chegar a até cinco anos de reclusão

Polícia na proteção aos animais e no combate à crueldade

O delegado Fernando Guzzi, da Delegacia de Orleans, conta que os crimes mais comuns envolvendo maus-tratos de animais são de: manter em cativeiro animais silvestres (na maioria pássaros) e de expor esses animais à venda; também de maus-tratos a animais, neste caso, envolvendo principalmente animais domésticos (cachorros e gatos).

“Mas também já houveram ações envolvendo maus-tratos a pássaros silvestres. O tráfico de animais é a terceira maior atividade ilegal do mundo. É um problema extremamente grave e que requer atenção das autoridades competentes. A atividade está atrás, apenas, do tráfico de armas e drogas”, revela o delegado.

Existem inúmeros crimes ambientais, que visam proteger tanto a fauna como a flora. Esses crimes e penas variam, podendo chegar a até cinco anos de reclusão. “Se o infrator praticar mais de um crime, as penas vão se somando. Para todos os crimes, existe também uma pena de multa prevista. Além de ser preso, o autor ainda tem que pagar valores consideráveis. Fora essas multas penais (decorrentes da investigação da Polícia Civil), ainda existem as multas aplicadas pelo órgão ambiental, cujos valores são ainda maiores”, alerta Guzzi.

Confira as dicas do delegado sobre como agir em casos de testemunhar uma crueldade animal:

  1. Como agir em caso de flagrar um ato?

Procure a Polícia Civil. O denunciante pode se dirigir à Delegacia mais próxima ou telefonar para o 197. Será atendido por um policial que acionará o delegado e uma equipe fará as averiguações. Se a Polícia constatar a prática do crime em flagrante, os animais serão apreendidos e o infrator preso.

2. Onde ligar?

181 (denúncia anônima)

Lei que proíbe eutanásia

  • O presidente Jair Bolsonaro sancionou lei que proíbe a eutanásia de cães e gatos de rua por órgãos de zoonose, canis públicos e estabelecimentos similares, exceto em casos de doenças graves ou enfermidades infectocontagiosas incuráveis que coloquem em risco a saúde humana e de outros animais. A Lei 14.228 está publicada na edição da última quinta-feira, 21, do Diário Oficial da União e passa a valer em 120 dias.
  • PLC 17/2017 determina que, para a eutanásia, será necessário laudo técnico de órgãos competentes. As entidades de proteção animal deverão ter acesso irrestrito à documentação que comprove a legalidade do procedimento. A intenção da proposta é incentivar a adoção desses animais por meio de convênios do setor público com entidades de proteção animal e outras organizações não governamentais.

 

Levantamento Portal TN Sul

Município: Nova Veneza
ONG: Mãos que Ajudam, Patinhas que Agradecem (MAPA)
Rede social:
Instagram: @mapanovavenezasc
Facebook: mapa.novaveneza
Dívida: R$ 500,00
Público: Prevenção sobre castrações, realização de mutirões de castrações (em parceria com as ONGs), também é realizado trabalho ambiental em cada casa, além de fiscalizar situações de maus-tratos todas as semanas.


Município:
Forquilhinha
ONG: Amigo Fiel
Rede social:
Instagram: @amigofielong
Dívida: R$ 30.000,00
Público: Realização de mutirões de castrações (em parceria com as ONGs), só este ano mais de 300 animais já foram castrados pelo programa do município.


Município:
Treviso
ONG: SOS Quatro Patas
Rede social:
Facebook: SOS Quatro Patas – Treviso
Dívida: R$ 1.450,00
Público: Castração de animais de rua. Também realiza mutirões de vacinação. Além da vacina da raiva, os animais também foram imunizados contra cinomose, adenovírus tipo 2, parainfluenza, parvovirose, coronavirose e leptospirose.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Município: Urussanga
ONG: Ong Raça
Rede social:
Instagram: @racaong
Facebook: @ongracaurussanga
Dívida: cerca de  R$ 30.000,00
Público: O Combea (Conselho de Bem-Estar Animal), realiza mutirões de castração, adoção voltados para animais de rua. Possui parceria com a Unibave (Centro Universitário Barriga Verde), que visa a castração, chipagem e atendimentos clínicos cirúrgicos.

Município: Morro da Fumaça
ONG: Vida de Cão
Rede social:
Instagram e Facebook: @ongvidadecao
Dívida: Sem dívidas
Público: Realização de castração e microchipagem dos animais encaminhados para a castração. Foi criado recentemente o Fundo do Bem-Estar Animal para incluir outras ações voltadas a essa atividade.

Município: Balneário Rincão
ONG: Organização Protetora dos Animais (OPA)
Rede social:
Instagram: @abrigoopa
Dívida: R$ 14.000,00 (custo mensal do canil da OPA bancado pelo voluntário Manoel César da Silva Alexandre); quanto aos valores das dívidas, atual grupo que assumiu a entidade aguarda o levantamento da antiga diretoria para saber o valor total.
Público: Controle de reprodução através de castração gratuita para famílias de baixa renda, ONG e protetor independente.


Município:
Criciúma
ONG 1: SOS Vira Lata
Rede social:
Instagram e Facebook: @sosviralata
Dívida: R$ R$ 9.692,88 (custo referente ao mês de outubro)

ONG 2: Animal.com
Rede social:
Instagram e Facebook: @onganimalpontocom
Dívida: R$ 7.000,00

Associação: Unidos pelos Animais (grupo de protetores independentes/não é ONG)
Rede social:
Instagram: @unidospelosanimaiscri
Dívida: R$ 10.000,00

Público: A cidade de Criciúma possui o Núcleo de Bem-Estar Animal (NBEA). Ele foi inaugurado em 2019 e presta atendimentos de baixa complexidade, castrações, microchipagem, doação de animais e recebe denúncias de maus tratos.


Município:
Lauro Müller
ONG: Miados e Latidos
Rede social:
Instagram: @ongmiadoslatidos
Facebook: Ong Miados Latidos Lauro Müller
Dívida: R$ 10.000,00
Público: A Prefeitura de Lauro Müller possui um termo de fomento com a Unibave (Centro Universitário Barriga Verde), para atendimento emergencial de animais de rua do município ou que precisam de um atendimento clínico. Com isso, os casos são encaminhados à instituição.

Município: Içara

ONG 1:
Amigo Bicho
Rede social:
Instagram e Facebook: @ongamigobicho
Dívida: R$ 39.000,00 (dados de até 15 de setembro)

Grupo de protetores independentes: Amor e Patinhas (não é ong)
Rede social:
Instagram e Facebook: @amorepatinhas
Dívida: R$ 3.000,00

Público: A Fundação Municipal do Meio Ambiente de Içara possui um Centro de Castração, onde realiza o atendimento para a população todos os dias e reserva um percentual das castrações diárias para as ONGs  e protetores de animais da cidade.


Município:
Cocal do Sul
Associação: Rede do Bem (ainda não é ONG, está encaminhando as documentações para formalizar)
Rede social:
Instagram e Facebook: @rede_do_bem_cocal_do_sul
Dívida: R$ 25.000,00
Público: Realiza castrações em animais errantes (abandonados na rua), para famílias de baixa renda ou para as pessoas adotarem animais de rua. Também realiza ações de incentivo à adoção de animais e tem parceria com os protetores individuais do município, que abrigam os animais castrados em lares temporários até que eles sejam doados.


Município:
Orleans
Associação: Pet Lovers (apenas registrada em cartório/não é ONG)
Rede social:
Instagram e Facebook: @petloversorleans
Dívida: R$ 9.000,00
Público: A Fundação Ambiental Municipal de Orleans tem um canil em processo de desativação onde estão em torno de 30 cachorros no local. Nesse canil, uma pessoa fica responsável por alimentar esses animais e manter o local higienizado. Um médico veterinário auxilia com medicamentos e também são realizadas castrações para pessoas de baixa renda inscritas no CadÚnico.


Município:
Siderópolis
ONG: Iddasi (Instituto de Defesa dos Direitos dos Animais de Siderópolis)
Rede social:
Instagram: @iddasi.sideropolis
Facebook: @InstitutoIDDASI
Dívida: R$ 26.000,00
Público: A Fundação do Meio Ambiente de Siderópolis recebe denúncias de maus-tratos, realiza atendimentos simples e intermedia castrações em parceria com a ONG.

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