Nova Veneza
A chuva registrada nos últimos dias trouxe alento aos rizicultores do Sul de Santa Catarina. A crise hídrica que atinge o setor elétrico também traz reflexos para o agronegócio, uma das principais cadeias produtivas da região. Conforme a Empresa de Pesquisa e Extensão Rural do Estado (Epagri), a água é fundamental para a produção do grão, principalmente, no início da safra. A recente mudança do clima contribui para que os reservatórios e rios fiquem normalizados pelo menos durante as próximas semanas.
“O mês de agosto realmente teve pouca chuva e é uma época que já se inicia o plantio e preparo do solo. Para essas atividades, é fundamental ter bastante água. Tínhamos o produtor já na iminência, percebendo essa escassez de água. Então, a grande maioria deles ficou segurando o início do cultivo, aguardando a água para começar a operação de implantação das lavouras”, explica o engenheiro agrônomo e coordenador do projeto Grãos da Epagri no Sul de Santa Catarina, Douglas George de Oliveira.
Conforme a Epagri, foram registrados, no Sul de Santa Catarina, aproximadamente 70 milímetros de chuva nas últimas 48 horas. “A previsão aponta que para os próximos dez dias vão ter novas precipitações, o que deixa a região, de uma forma geral, bem tranquila. No Sul, tem períodos onde há falta repetidamente de água. Isso acontece mais expressivamente no fim do mês de outubro e início de novembro”, acrescenta o engenheiro agrônomo.
De Oliveira explica que no início da safra, a falta de água no cultivo do arroz pode causar danos significativos. “Principalmente, porque o produtor não consegue fazer a prática agrícola nos momentos ideais. Agora, neste momento, vai ter uma concentração. Porque muitos produtores estavam esperando para plantar, com a chuva, todo mundo vai plantar arroz junto”, enfatiza.
Por enquanto, sem preocupações
Conforme o engenheiro, por enquanto, não há preocupações quanto ao cultivo do arroz. “Até esse momento, a falta de água não prejudica a produção, uma vez que as lavouras que já tinham sido plantadas. A época de semeadura oficial na nossa região começa a partir do dia 21 de agosto, pelo calendário do Ministério da Agricultura. Claro, a gente sabe que tem muitos produtores que precisam e acabam plantando antes, mas são áreas menores”, frisa.
Políticas públicas de incentivo
Com a crise hídrica, os órgãos alertam para a necessidade do armazenamento de água nas propriedades, sobretudo no que envolve a agricultura. “Existem políticas públicas de incentivo para que o produtor faça açudes e melhorias nas estruturas de irrigação. Há recursos do Estado para auxiliar os agricultores. Isso é muito importante. Essas medidas, juntas, compõem uma estratégia de gestão de água mais eficiente”, pontua De Oliveira.
Para o engenheiro, este investimento traz resultados expressivos, como um melhor desempenho das lavouras. “O impacto disso é o produtor poder conduzir melhor a sua lavoura e também tem o caráter ambiental. O que está acontecendo agora é que quem conseguiu pegar a água vai pegar, mas ela está passando, indo pro mar. Seria muito importante se ela ficasse armazenada dentro da nossa bacia hidrográfica para ser utilizada nos momentos que vai faltar”, finaliza.
Recurso é essencial
Para o produtor neoveneziano, Silvino Gava, a chuva foi essencial para o cultivo do arroz. O agricultor possui 140 hectares da plantação, no interior de Nova Veneza. “Choveu um volume significante, até mais do que as precipitações vinham indicando. Nós, aqui, temos a água do Rio Mãe Luiza, então dificilmente falta. Só que a gente tem o custo de bombear quase sempre. No meu caso, eu plantei quase toda a área e tenho dez bombas, periodicamente tenho duas ligadas puxando água”, explica.
Com a água das chuvas, não será necessário bombear o rio, o que diminui o custeio da produção. “A própria água das chuvas abastece as canchas de arroz. Outras regiões que têm os rios com menos volume de água, já estão secos. Alguns agricultores começaram a fazer o preparo do solo nessa época, por causa da chuva, que veio só agora, nesses últimos dias. Regiões que plantavam mais cedo tiveram que aguardar a chuva, porque ela é essencial para a cultura do arroz”, enfatiza Gava.
No Extremo Sul (Amesc), Laguna (Amurel) e Carbonífera (Amrec) são mais de 2.500 agricultores que se dedicam ao cultivo do arroz. As três regiões são as principais produtoras do grão em Santa Catarina, representando 65% do quantitativo total. Dos 98 mil hectares que recebem o plantio nessas localidades, o principal é o Vale do Araranguá, com 50 mil hectares – 1/3 de toda a produção do Estado.