Siderópolis
“Bons colonos em terras mui férteis, que o senhor nosso Deus ofertou, produzindo o sustento dos outros, que com eles têm muito valor. Valorosos mineiros ativos, tiram ouro o puro carvão.” O trecho do hino de Siderópolis resume bem como o município encara duas atividades em especial: a agricultura e a mineração, responsáveis diretas por nesse domingo, dia 19 de dezembro, estar sendo comemorado o 63º aniversário de emancipação.
A história da cidade começou algumas décadas para trás, quando as terras foram apelidadas de Nova Belluno. O nome partiu dos imigrantes italianos que povoaram o local. Oriundos do norte da Italía, principalmente das províncias de Belluno, Veneza, Treviso e Bérgamo, cerca de 100 famílias desembarcaram em julho de 1891 para colonizar a área onde futuramente existiria Siderópolis.
“Até 1919, só se ensinava a língua italiana nas escolas. Depois os pais, tendo em vista a Primeira Guerra Mundial e a proibição da língua italiana no Brasil, se preocuparam e trouxeram uma professora de Florianópolis para dar aulas de língua portuguesa em Siderópolis”, sublinha José Crepaldi, construtor civil e escritor memorialista.
O povoado, então conhecido como Nova Belluno desde 1913, foi forçado a deixar a alcunha para trás na década de 1940. A imposição veio do governo federal, que não desejava que áreas sob seu controle possuíssem nomes de origem ou italiana ou alemã, com quem o Brasil estava em guerra. “O presidente era Getúlio Vargas. O decreto mandou a Câmara de Vereadores de Urussanga realizar a troca. Foi sob pressão, sem consultar os colonizadores”, informa Crepaldi. A mudança de nome aconteceu em 31 de dezembro de 1943, por decreto do interventor catarinense Nereu Ramos, momento em que Siderópolis continuava a ser um distrito de Urussanga.
A partir de então iniciou-se o movimento pela emancipação, que culminou no dia 19 de dezembro de 1958, quando o governador Heriberto Hülse assinou a lei n.º 380, desmembrando Siderópolis de Urussanga. No ano seguinte, um grupo de vereadores sideropolitanos entraram com uma emenda na Câmara para que o nome do município voltasse a ser Nova Belluno. “Mas por uma manobra política da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), alguns vereadores foram comprados e a mudança não foi aprovada em votação”, evidencia.
Crepaldi contou que a exploração de carvão mineral teve início em 1936, quando grandes reservas do minério foram descobertas abaixo do solo. A CSN explorou a região de 1944 a 1989.
Marcos italianos perpetuados
O movimento italiano continua forte em Siderópolis, mesmo passados 130 anos desde a colonização. Grupos foram criados para resgatar a cultura dos antepassados, para que as novas gerações não esqueçam as raízes. “Temos o grupo de canto italiano, que começou no mesmo ano da chegada dos colonizadores, em 1981, e existe até hoje. Os imigrantes, como todo bom italiano, gostavam de cantar. Depois, os filhos deles continuaram cantando. Os netos continuaram cantando. E agora, os bisnetos continuam cantando”, assinala Crepaldi, que escreveu um livro sobre a história da cantoria italiana no município. O grupo hoje conta com 14 pessoas e realiza apresentações em datas especiais.
Já a Associação Bellunese possui mais de 80 pessoas ativas, interessadas em manter acesa a chama do passado cultural. As escolas da rede municipal de ensino ensinam o idioma italiano aos estudantes há 27 anos. Boa parte da população é bilíngue, mantedora de dialetos como o bergamasco e o bellunese, principalmente nas zonas rurais.
“Meu nono chegou a ser preso na época da Primeira Guerra Mundial apenas por estar falando italiano. Ele não sabia falar português. Esses imigrantes sofreram muito quando chegaram ao Brasil”, pontua Crepaldi. O trajeto começou no porto de Gênova. Após chegarem ao porto de Santos, eles vieram em barcos menores até Imbituba e pegaram o trem até Pedras Grandes. De lá, passaram por Urussanga e desembarcaram em Siderópolis. “Na verdade, esses italianos pensavam que estavam indo à América do Norte. Receberam boas notícias na Itália. Mas eles foram levados para a América do Sul. Quando chegaram aqui e foram despejados no meio da mata, muitos choraram e quiseram retornar. Algumas famílias, com mais condições, conseguiram voltar. Mas a grande maioria, que mal tinha roupas para vestir, permaneceram”, detalha ele, que também escreveu um livro sobre a história da sua família.