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quinta-feira, abril 18, 2024

Futebol amador: a paixão que segue enraizada no torcedor

Com diversas competições e lendas do esporte, a várzea é repleta de apaixonados pelas arquibancadas

Henrique Ferreira

O futebol é um esporte que movimenta milhares de pessoas no mundo inteiro, trazendo o sentimento do torcedor para as arquibancadas dos estádios. Além do profissional, os campeonatos amadores trazem a paixão em apoiar o clube da sua cidade. Em Nova Veneza, o Grêmio Esportivo Metropolitano é referência no futebol amador, sendo um dos principais clubes mais tradicionais do Sul de Santa Catarina.

O Metropolitano, apelidado como Metrô, é um dos maiores campeões da região. Um dos principais pontos de conquistas do clube passa pelo braço dos seus torcedores, considerados fanáticos. Lauro César Manenti iniciou sua trajetória desde pequeno no Metrô, paixão que passou pelos gramados aos bastidores da equipe.

“Hoje eu não faço mais parte das arquibancadas, porque estou na parte do marketing do clube. Mas enfim, esse laço entre o time e a torcida se cria desde o início, muito por causa das escolinhas. Eu particularmente comecei a ter esse sentimento com sete anos de idade, devido à proximidade em fazer parte da equipe de base. A partir daí não tem como não amar o clube, torcer no futebol amador é diferente, pois a comunidade faz parte do dia a dia do clube. No futebol amador a torcida e a diretoria ganham jogos, e a maior prova disso é o estádio Darci Marini em dia de partidas do Metrô”, explica Manenti.

O Metropolitano é um dos maiores campeões da região Sul/ Foto: Lauro César Manenti

A torcida organizada do Metrô se iniciou em 2013, com o nome inicial de ‘Metrofolia’. Segundo Alessandro Tommasi, um dos responsáveis pelo movimento, o passar dos anos e a identificação com o estilo barra brava de incentivar a equipe com cantos intermináveis e fogos de artifício, levou a troca do nome inicial, sendo chamada até os dias atuais de Barra Metrofolia.

“Como sempre falamos, somos os primeiros a chegar, e os últimos a saírem. De manhã começamos colocando os trapos e cuidando da logística da arquibancada, churrasco de pré-jogo e a festa antes, durante e após o apito. Porém, o Metrô para a gente vai muito além das quatro linhas e dias de jogos. Acontecem reuniões do núcleo da torcida com o presidente para alinharmos assuntos de mútuo interesse, sendo a manutenção de instrumentos, limpeza da nossa sede e ações sociais”, destaca Tommasi.

Conexão com a torcida

O sentimento dos torcedores que apoiam o clube de Nova Veneza é lembrado com carinho por um dos maiores jogadores do time. O goleiro Fernando Passarela atua no Metropolitano há mais de dez anos, sendo um dos principais líderes da equipe. Sua ligação com a torcida é fundamental, levando o time a buscar resultados em momentos complicados.

Goleiro Passarela é um dos ídolos do Metrô/ Foto: Lauro César Manenti

“A nossa torcida é muito apaixonada, ela nos empurra os 90 minutos dentro de campo. No duelo contra a equipe do Içara na partida de volta do mata-mata da Copa Sul, nossos torcedores foram fundamentais. Em um período do jogo, que estávamos sendo eliminados com o resultado em 1 a 1, com um jogador a menos dentro de campo, nossa torcida sentiu que a gente precisava deles, e começaram a cantar ainda mais forte, e diante desse apoio conseguimos virar a partida”, enfatiza Passarela.

Após a equipe do Metrô conseguir se classificar em um confronto muito disputado contra o Içara Futebol Clube, o goleiro se emocionou com a atmosfera do estádio, não conseguindo conter sua emoção diante do grande resultado.

“Terminou o jogo, eu vou para a torcida vibrar, eu senti muito esse apoio dentro de campo, a presença deles acreditando em nós, depositando confiança no elenco, eu comemorei muito. Eles são apaixonados, quando entramos em campo, e vemos a torcida cantar, a banda tocar, nos empurrando, a motivação dos jogadores dentro de casa se multiplica. Com esse apoio muito forte, nos dá um gás a mais para conquistarmos a vitória. Nosso torcedor é primordial, e por causa deles somos ainda mais fortes”, exalta.

Visão da experiência

Luiz Gonzaga Milioli, de 72 anos, foi o treinador com mais jogos pelo Criciúma Esporte Clube. Formado na primeira turma de Educação Física em Criciúma, Milioli já passou pelos maiores times de Santa Catarina. Ele tem em seu currículo vários títulos estaduais, integrando a vitoriosa comissão técnica da Copa do Brasil de 1991. Sua chegada no futebol amador gerou muita expectativa, que se transformou em resultados positivos.

Em 2012, quando ele retornou de Joinville, comandou uma escolinha de futebol no Rui Barbosa, em Morro da Fumaça. E seu primeiro envolvimento com o amador foi através de um convite de um dos treinadores mais consagrados da várzea. Amauri Madeira trouxe Gonzaga Milioli para treinar o elenco principal do Rui Barbosa, marcando sua passagem ganhando a Copa Sul dos Campeões, o estadual e o Sul-Brasileiro.

Luiz Gonzaga Milioli gerou muita expectativa em sua chegada no futebol amador/ Foto: Lauro César Manenti

“Retornei ao Criciúma em abril de 2015, e no final desse ano, eu decidi me aposentar. Como eu não tinha nenhuma atividade, comecei a ficar incomodado, ficando muito tempo em casa. Até que chegou um outro convite para participar do futebol amador, assumindo o Caravaggio. Hoje, eu sinto que estou me realizando no amador, é uma ocupação e faz bem para minha saúde. Eu digo que a gente não é treinador no amador, mas sim um administrador, um escalador, porque você não treina o time, é reunido os jogadores no dia do jogo, e a partir disso analisamos com quem vamos contar para a partida”, comenta Milioli.

Segundo ele, as experiências e conquistas marcam sua passagem no amador, sendo respeitado no futebol. Gonzaga Milioli é o atual treinador do Metropolitano. Neste ano o técnico já venceu a Copa Sul dos Campeões.

“Títulos são consequências porque o futebol amador da região Sul é muito forte. Eu gosto muito do futebol amador, se você for nos campos de futebol no sábado e domingo eu estarei lá, eu gosto muito de estar no meio do pessoal. O amador é o futebol raiz, conseguimos fazer grandes amizades. Por onde eu passar sempre vou buscar deixar credibilidade e fazer as coisas corretamente”, completa.

Equipe da África no Municipal de Criciúma

Amauri Madeira é um dos principais treinadores do futebol amador, e foi um dos formadores da equipe Cogacri (Comunidade de Ganeses de Criciúma). Em 2013 ele era coordenador da antiga casa de passagem de Criciúma (atual República), quando chegou um grupo da África para morar na cidade. Amauri conta que não pode treinar a equipe, pois já comandava a equipe do São Luiz, mas era muito próximo dos africanos, que buscavam praticar um esporte.

Amauri Madeira foi um dos principais responsáveis pela formação do time/ Foto: Divulgação

“Para jogar a competição do Municipal de Criciúma, deveria ter sido nascido em Criciúma, mas eu fui em busca de colocar eles na disputa, porque os africanos ficavam somente dentro da casa de passagem, e seria um lazer para eles jogar, sendo legal colocar uma cultura nova, essa interação. Diante do apelo, as equipes que disputavam concordaram com a entrada do Cogacri na disputa”, relembra.

Conforme Madeira, onde os africanos jogavam arrastavam multidões para assistirem à partida. Os jogadores se deslocavam para os jogos dançando, cantando, com o sentimento de alegria. “Eu me emociono em falar, durante esse período eu tive uma doença grave, e fiquei hospitalizado. E os atletas dentro da mesquita fizeram um jejum de três dias por mim. Eu sinto muita gratidão por ter conhecido eles”, complementa Amauri.

Estrelas do amador

Um dos destaques do futebol de várzea atualmente, Andrei de Souza de Oliveira, percorre o estado inteiro de Santa Catarina com seu talento e esforço. O atleta que iniciou na base do Grêmio, dos 13 aos 17 anos, selecionou o Criciúma para prosseguir sua carreira, porém, após um mês foi dispensado pelo clube, encerrando sua passagem pelo profissional precocemente. Em 2014 Andrei iniciou sua história no amador pela Carbonífera Criciúma.

“No amador eu comecei jogando muito pouco, em minha primeira passagem pelo Caravaggio e posteriormente no Metropolitano, eram poucas chances, até porque eu estava iniciando. Em 2018 comecei a ter sucesso e ter mais oportunidades, ganhando todos os títulos que disputamos”, recorda Andrei.

Andrei é um dos principais craques do futebol amador em Santa Catarina/ Foto: Lauro César Manenti

Em 2019 ele retornou ao Caravaggio com grande destaque no meio-campo da equipe. Porém, Andrei optou por não seguir com o clube para o futebol profissional e decidiu voltar ao Metropolitano. Segundo ele, no amador o retorno financeiro que o jogador recebe já está ultrapassando o ganho no profissional, o que resulta em uma preparação forte durante a semana para manter o alto nível.

“Além do Metropolitano, jogo em diversas regiões nos finais de semana. Sendo muito gratificante ser reconhecido no futebol amador, esse carinho de ser lembrado pelos torcedores de diversos clubes. Jogar no amador é loucura, tem final de semana que disputo de três a quatro jogos, então chega na segunda-feira estou exausto, com muita dor, mas esse faturamento financeiro ajuda muito”, avalia.

Gelinho é o atual treinador da equipe Sub-15 do Criciúma Esporte Clube/ Foto: Tiago Inácio

Um dos maiores nomes que chegou do profissional para o amador, Wildnei Soares Cardoso, mais conhecido como Gelinho, é um dos atletas que mais levantaram títulos no amador, somando 27 conquistas em 20 anos de carreira. Conforme o jogador, a paixão pela bola está enraizada desde criança.

“Lembro que meus presentes de aniversário, de Natal, Dia das Crianças, sempre foram ligados ao futebol, ganhava bola, chuteira, uniforme de time. Sempre tive em mente o que eu queria ser, me dediquei muito, treinava todos os dias, abri mão de muitas coisas da adolescência e juventude para poder treinar e ser diferente nas partidas. Tive o preparo físico e a técnica ao meu favor pelo empenho nos treinos e dedicação com a bola”, acrescenta Cardoso.

Quando estava em sua reta final no amador, Gelinho decidiu cursar educação física. Vindo a trabalhar com a formação de atletas, tornando-se técnico da equipe Sub-15 do Criciúma. Segundo ele, era um sonho poder passar o que vivenciou dentro de campo para os mais novos.

Gelinho executa treino físico para atletas do Sub-15 do Criciúma E.C / Foto: Divulgação

“Deixo aqui uma motivação final. Alimente e viva sempre seu sonho, busque isso com força e dedicação total, tenha fé, busque em Deus a direção para o processo que é lento, árduo e muitas vezes cansativo, mas não desista, pois quando menos espera a oportunidade aparece e você verá que valeu a pena cada dia investido”, aconselha Gelinho.

Vídeo: Divulgação

Do amador para o profissional

O Caravaggio Futebol Clube, um dos maiores times do futebol amador, rival acirrado do Metropolitano, deu um passo além em 2021, tornando-se uma equipe profissional. Carinhosamente chamado de Azulão da Montanha, durante todo o percurso no amador foram 15 taças levantadas.

“Sair do futebol amador e ir para o profissional muita gente achava que era impossível, porém desde o começo tratamos esse assunto com muito carinho e cuidado. Em 2019 voltamos a ganhar títulos e tudo que tínhamos para conquistar já havíamos vencido. E com a chegada da pandemia, o futebol amador parou em 2020, foi quando começamos a estudar melhor a possibilidade de ingressar no futebol profissional”, relembra o presidente do período da mudança, Samuel Milanez.

O Caravaggio ingressou ao futebol profissional em 2021/ Foto: Arquivo CFC

De acordo com ele, em 2021 o Caravaggio começou a conversar com outros clubes do futebol profissional e com a Federação Catarinense de Futebol (FCF) sobre o que precisava ser feito de imediato e o que necessitava ser realizado para disputar o profissional. Milanez conta que uma reunião foi marcada com a presença de ex-presidentes do clube, os empresários da equipe e a torcida, sendo explanado o objetivo da ida para esse desafio.

“Nesta reunião foi aprovada a chegada do Caravaggio ao futebol profissional, foi quando fomos à Federação, e a partir da decisão tivemos um giro 360°, tendo que organizar todos os departamentos. Foi algo muito trabalhoso, mas o Caravaggio por ser formado por uma diretoria competente e de apaixonados pelo clube, fomos conseguindo tirar de letra essas coisas”, assinala.

Samuel conta que tudo que ocorreu em 2021 foi um grande aprendizado, sendo disputado o Campeonato Catarinense da Série C, no estádio do Próspera em Criciúma, e ao mesmo tempo foram começadas as reformas no estádio da Montanha para utilizar em 2022. No final da competição, o time foi vice-campeão, com a equipe conseguindo o acesso para disputar a Série B.

“Esse ano de 2022 foi muito desafiador, parávamos mais no estádio do que em casa, mas foi um ano muito bom, sendo cumprido o objetivo principal que era a permanência na Série B para 2023. Conseguimos também cada vez mais nos estruturar e fortalecendo nossas categorias de base. Meu olhar é um futuro muito bom para o Caravaggio, estamos com uma diretoria que está amadurecendo, e com a ajuda de todos, da nossa torcida e dessa comunidade de Nova Veneza que abraça o clube não vamos ter muitas dificuldades, estamos bem contentes com esses nossos dois anos iniciais,” comemora Milanez.

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