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terça-feira, abril 23, 2024

Capital do bom vinho, Urussanga atinge 144 anos de fundação

Gustavo Milioli
Urussanga

‘Urussanga’ provém do tupi-guarani e significa ‘água muito fria’. Nada que espantasse as dezenas de famílias italianas que desembarcaram no espaço no dia 26 de maio de 1878, às margens do Rio América. Depois de enfrentarem meses de um intenso e perigoso trajeto, os colonos decidiram que ali seria o lugar ideal para construírem uma nova vida.

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Desde então, Urussanga é consagrada como o principal núcleo da colonização italiana no Sul de Santa Catarina. A qualidade dos vinhos e espumantes, a saborosa gastronomia, a tranquilidade interiorana e a cultura típica do país colonizador são os aspectos que mais chamam a atenção.

Alguns dos traços trazidos pelos imigrantes no final do século XIX continuam vivos no dia a dia do povo urussanguense. O idioma italiano, ensinado nas escolas municipais, o dialeto, presente no vocabulário dos mais velhos, a vida bucólica dos moradores da zona rural, as canções e a alegria das festas culturais tradicionais Vindima Goethe, Ritorno Alle Origini e Festa do Vinho, demonstram como o povo urussanguense preserva o seu passado.

O caráter arquitetônico também merece destaque. No ‘coração’ do município, nas redondezas da Praça Anita Garibaldi, as edificações mantêm a mesma estrutura daquela construída pelos italianos provenientes da Província de Belluno, região do Vêneto. Para que estes verdadeiros patrimônios históricos não se comprometam com o avanço da engenharia urbana na área central, um projeto contemplado pela Fundação Catarinense de Cultura visa impor regramentos mais ríspidos para que a imagem dos casarões não sejam prejudicados.

Preservação do patrimônio histórico

O trabalho foi coordenado pela arquiteta Virginia Gomes de Luca. Após ser aprovado em edital aberto, ela recebeu recursos do Governo do Estado para desenvolver o estudo técnico: “elaboração das diretrizes de preservação para o patrimônio edificado e a paisagem da Praça Anita Garibaldi, em Urussanga”. O objetivo da iniciativa é gerar o conhecimento do sítio urbano e dos bens tombados a fim de nortear de uma minuta normativa de preservação, que delimita algumas regras específicas para a preservação do patrimônio edificado, facilitando, assim, a gestão das esferas municipal e estadual.

“A gente levantou toda a formação urbana em volta da praça e, através de estudos técnicos, propusemos a normativa com relação à altura, materiais e até mesmo as próprias edificações protegidas. Fizemos a proposta de uma poligonal de proteção, delimitando a área que entendemos que concentrava esta parte histórica”, explica. Os regramentos não impedem que novos imóveis surjam nas proximidades dos 18 patrimônios tombados, mas sugere que as construções a serem erguidas sigam um critério específico para não prejudicarem o espaço. “O objetivo é que estes não interfiram negativamente no bem tombado, seja pela altura, cor ou estrutura”, completa.

Atualmente, a maioria dos 18 casarões é de propriedade privada, funcionando como estabelecimentos comerciais e de serviços. Outros estão inativos, sem utilidade. “Vemos como um problema, por não terem manutenção. Como não há ninguém usando, acabam trazendo um prejuízo na estética, com as pinturas comprometidas, e no próprio interior, com goteiras e ruínas”, observa Virginia.

De acordo com a arquiteta, os imóveis robustos foram construídos pelos imigrantes italianos à medida que eles foram melhorando de vida no aspecto financeiro. “Como encontramos na literatura, alguns dos que vieram já compravam lotes no centro, mas a maioria foi para a área rural. Depois de um tempo, eles venderam os lotes e se mudaram para o centro”, explica.

Próximos passos

A responsável pelo estudo afirmou que os trabalhos já foram finalizados na parte normativa. “A gente fez uma cópia tanto para a prefeitura, como para a Fundação Catarinense de Cultura. Agora, os encaminhamentos não dependem mais da gente. São trâmites internos, passando pela análise jurídica e técnica dos órgãos. Eles devem fazer um fechamento e publicar, para que posteriormente vire uma lei. Assim, no futuro, os proprietários poderão saber o que é permitido ou não ser feito nas intervenções dos imóveis”, detalha.

Prêmio de estímulo à cultura

O conjunto de edificações históricas do entorno da Praça Anita Garibaldi é considerado o mais representativo da arquitetura urbana da imigração italiana em Santa Catarina e é protegido pela Fundação Catarinense de Cultura desde 2001. Virginia idealizou o projeto através do edital do Concurso Público de Estímulo à Cultura, Prêmio Elisabele Anderle, na categoria Patrimônio e Paisagem Cultural.

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