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quinta-feira, março 28, 2024

SC: em 3 anos, preço do gás natural utilizado por indústrias sobe 313%

Desde 2019, o preço do gás natural, insumo utilizado por mais de 300 indústrias catarinenses, aumentou 313%. A alta é resultado de sucessivos reajustes na tarifa do energético, que é essencial para garantir o desempenho de diversos ramos industriais, sobretudo o ramo cerâmico.

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Segundo a Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) a produção cerâmica representa 4,5% dos empregos no estado. Na Região Sul, representa 37,8% dos estabelecimentos.

Além do cerâmico, ramos como o têxtil, metalúrgico e de vidros e cristais precisam que o preço do gás natural seja mais competitivo para enfrentar a concorrência regional e internacional. Os consumidores de gás natural representam, aproximadamente, importantes 13% do PIB catarinense.

O ciclo de altas acontece após vários anos em que o insumo era mais vantajoso que concorrentes como o gás de cozinha (GLP) e o óleo combustível. Agora, o mercado de fornecimento do gás natural corre risco de ver o fim do seu protagonismo junto ao setor produtivo catarinense, o que pode provocar o deslocamento de fábricas para outros estados do país. Marcas catarinenses já analisam a possibilidade de mudar de matriz energética ou priorizam suas produções em plantas do Nordeste.

O Sindicato das Indústrias de Cerâmica (Sindiceram) lembra que o peso do gás natural nos custos de produção do setor varia entre 20% e 30%. Assim, o combustível se comporta como principal componente na formação do preço final dos produtos cerâmico, afetando diretamente os consumidores.

O aumento no preço também afeta o gás natural veicular (GNV), muito usado por motoristas de aplicativos. Estes usuários consideram que o combustível deixou de ser vantajoso e contabilizam perdas nos seus resultados em razão das tarifas altas praticadas no Estado. São mais de 100 mil famílias afetadas, que sofrem com a pressão de uma economia informal associada a constantes altas no preço dos combustíveis.

Perda de competitividade

Durante quase uma década, Santa Catarina foi o estado brasileiro que ofertou a tarifa de gás natural mais barata do país. Contudo, desde 2019, vem perdendo competitividade no mercado. Hoje, entre os mais de 20 estados que operam com o produto, Santa Catarina figura entre os 10 menos competitivos da federação.

Mesmo em um período de constantes aumentos e pressão do mercado nacional e internacional, a distribuidora do insumo que opera o serviço público em Santa Catarina contabilizou, em 2021, um lucro líquido de quase R$ 180 milhões. O valor significa quase o triplo do que investiu em novas redes no mesmo ano.

Também provocou reclamação em núcleos do setor produtivo o recente aumento permitido pela distribuidora nos vencimentos salariais dos seus diretores e conselheiros, fato considerado irresponsável em períodos de crises, como o que vive a economia nacional. Os salários impactam também nas tarifas, como componente dos custos operacionais.

Recentemente também outro fator passa a onerar o mercado de consumo. A concessionária catarinense vem adquirindo gás natural do principal supridor, a Petrobras, a preços menos competitivos que São Paulo. E mesmo com esse aparente processo de ineficiência em compra, conseguiu autorização da Agência Reguladora do Estado de Santa Catarina (Aresc) para repassar às tarifas as penalidades do contrato de suprimento.

Quando a distribuidora opera com mais volume do que o contratado, há multas. A partir da decisão, estas penalidades são espelhadas ao mercado, transferindo os riscos econômicos e financeiros do contrato diretamente para os consumidores.

Segundo a projeção da própria SC-Gás, a partir de dados apurados ainda em abril, a indústria sofrerá com mais um forte reajuste no dia primeiro de julho. A projeção aponta cerca de 40% de aumento para o setor industrial. Ainda, conforme resolução já anunciada apela Aresc, a margem da empresa, que destina próximo de um terço de forma majoritária como o lucro aos acionistas privados da concessionária, impactará mais 2% nas tarifas.

Os reajustes do gás natural em Santa Catarina para setor industrial desde 2019

Janeiro/2019: 6,73%
Julho/2019: -0,31%
Janeiro/2020: 8,73%
Julho/2020: -13,5%
Setembro/2020: 0,68%
Janeiro/2021: 28,51%
Julho/2021: 36,57%
Janeiro/2022: 24,92%
Fevereiro/2022: 2,32%
Julho/2022: 39,08% e mais 2% (projeção dados de abril)

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