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domingo, outubro 1, 2023

Criciúma: peregrinos criam trajeto que passa por 10 cidades da região

Gustavo Milioli
Criciúma

O início é na zona rural de Criciúma. Caminhando, os peregrinos passam por Forquilhinha, Nova Veneza, Siderópolis, Treviso, Urussanga, Pedras Grandes, Treze de Maio, Morro da Fumaça e Içara, retornando ao local de partida depois de sete dias. Este é o trajeto do ‘Caminho Sagrado’, a mais nova rota de peregrinação do Brasil, criada por um grupo de amigos de Criciúma e região.

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Ao todo, são 10 cidades, 175 quilômetros, quase 50 templos religiosos e seis pernoites previstas no roteiro. A ideia foi inspirada no famoso Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, e já começa a receber peregrinos de diferentes lugares em busca da paz espiritual.

O Caminho Sagrado possui cerca de 25 membros voluntários. Foram eles os responsáveis pela estruturação e sinalização do trajeto. “A nossa região tem um número expressivo de peregrinos. Muitos deles se reúnem às sextas-feiras para caminhar, chamamos de Sexta da Peregrinação. Assim surgiu a vontade de trilharmos esse caminho. Começamos a traçar o roteiro, no início até pensamos em abrir para a Serra, mas depois percebemos que o interessante seria fazer o contorno”, explica Mhanoel Mendes, conselheiro do Caminho Sagrado e um dos idealizadores.

Quem embarca na jornada poderá conhecer a fundo a região, sobretudo a área rural. O aspecto cultural também é evidenciado. “É a oportunidade de percorrer o caminho que os nossos imigrantes ancestrais fizeram. Por exemplo, nós passamos por Azambuja, que em 1877 foi a localidade que acolheu os italianos no Sul. É um caminho que retoma a história”, comenta.

Todo o percurso foi sinalizado com placas e setas. O grupo buscou parcerias com hotéis, restaurantes e pousadas dos municípios para viabilizar descontos aos peregrinos. Antes do início da empreitada, cada um recebe uma espécie de passaporte, que servirá como ‘salvo-conduto’ a ser apresentado nos estabelecimentos.

De acordo com o voluntário, desde a concepção da ideia até a materialização, passou-se praticamente um ano. Os primeiros peregrinos de fora realizaram o caminho no mês passado, um casal de Concórdia. Também é possível completá-lo de bicicleta, com uma duração, em média, de três dias.

“Nós acreditamos que muitas pessoas vão trilhar. Não apenas do Brasil, mas até do exterior. Muitas pessoas no mundo são ‘caçadores de caminhos’ e levam isso como uma filosofia de vida. Na maioria das vezes, vêm em grupos”, projeta Mendes.

O Caminho Sagrado não surgiu com foco na religiosidade, apesar de contemplar, nos cálculos dos idealizadores, quase 50 templos. Logo no primeiro dia, chega-se ao Santuário do Caravaggio. No último dia, o ponto alto é o Santuário Sagrado Coração Misericordioso de Jesus, de Içara.

São outras dezenas de igrejas, capelas e grutas conhecidas. “Temos quatro propósitos definidos: espiritualidade, redescoberta, reconexão e transformação. Este é o grande objetivo que está por trás de todo o movimento. Mas a base que sustenta esta caminhada, é o propósito. E nós, do Caminho Sagrado, enumeramos quatro eixos principais envolvendo o peregrino e a peregrinação, que denominamos de propósito”, relata.

Em busca de padrinhos

O grupo de voluntários está atrás de padrinhos, que serão responsáveis por cuidar do caminho na cidade onde vivem e recepcionar os peregrinos. “Estamos procurando por padrinhos e madrinhas. Se alguém estiver perdido no interior de Nova Veneza, poderá entrar em contato com o padrinho da cidade”, afirma Mendes. Interessados podem entrar em contato através do site www.caminhosagrado.org.

Um caminho para dentro de si

Mendes já realizou peregrinações no Brasil, Bolívia e Peru, além de percorrer o Caminho de Santiago, na Espanha, por três vezes. Segundo conta, não existe um caminho mais marcante ou especial. Todas as oportunidades são únicas por realçarem sentimentos ‘esquecidos’ durante a rotina do dia a dia.

“Quando o peregrino caminha, ele caminha para se olhar, para se perceber. Quando a gente caminha, a gente se reconecta com o nômade que nós já fomos. Encontramos razões para vivermos de forma mais leve e feliz durante o cotidiano. Todos caminhos que eu já fiz, seja de uma manhã, um dia, uma semana ou um mês, me trouxeram para mais perto de mim”, externa.

Apesar de encantador, é importante conhecer o próprio limite

O Caminho Sagrado não é recomendado a quem não tem experiência em peregrinações, ou um condicionamento físico adequado. Se for a primeira grande caminhada, é melhor deixar a ideia para quando tiver um preparo mais condizente com a distância. Afinal, são 175 quilômetros em sete dias.

“Nós tentamos dividir bem esses 175 quilômetros, mas não deu. Têm dias que são percorridos 30 quilômetros, como de Treviso a Urussanga. Não teve jeito. Entre Azambuja e Morro da Fumaça também. E 30 quilômetros, para o nosso grupo, é o limite para uma caminhada diária. O ideal é no máximo 25 quilômetros. Depois disso, começa a ficar puxado”, afirma.

Vestir roupas condizentes, calçar tênis confortáveis e carregar uma mochila apropriada também são fatores importantes para evitar dores. “Quando a gente caminha, acessamos um estado sutil. Ficamos mais sutilizados. Sentimos o cheiro adocicado das flores, percebemos a formiga que atravessa a estrada, ouvimos os pássaros, temos a sensação do vento no rosto…Tudo fica mais sensibilizado, desde que tu tenhas um bom condicionamento. Caso a pessoa não tenha uma preparação, é preciso que tenha ao menos uma experiência de caminhada e esteja acompanhado de pessoas mais experientes. Se não, o peregrino vai ficar se digladiando com o corpo, vai doer tudo, pode causar até bolhas. Assim, toda aquela graça que é caminhar para dentro de si, não será possível saborear”, detalha. Ao completarem o trajeto, todos recebem um ‘júbilo’, como certificado de conclusão da perigrinação.

Turismo

O Caminho Sagrado, além de proporcionar a paz espiritual, também pretende fomentar o turismo de toda a região, trazendo visitantes de diversas partes do Brasil e do mundo.

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