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quinta-feira, abril 18, 2024

Povoação dos Conventos: um pedaço esquecido da história de Araranguá

Geórgia Gava

Araranguá

A riqueza histórico-cultural de um município define as tradições e memórias que serão mantidas ao longo dos anos. Por isso, a importância de preservá-las. Em meio ao acaso, dois amigos do Extremo Sul (Amesc), Ricardo Prado e Antenor Crepaldi, descobriram o início da civilização da Povoação Morro dos Conventos, denominada, à época, pelos moradores que constituíam um pequeno vilarejo, localizado próximo à balsa do Rio Araranguá.

“Foi algo descoberto por um acaso. O Antenor tem a casa dele lá no Morro dos Conventos há uns 15 anos, e comprou através de contrato de posse. E em uma dessas conversas ele me questionou: ‘como é que faz para regularizar essa área? Para obter a matrícula?’. E eu falei, temos que descobrir qual é a matrícula original, para depois, regularizar”, explica o oficial de Justiça e natural de Araranguá, Ricardo Prado.

A partir disso, os dois amigos deram início a um levantamento para descobrir a matrícula do loteamento. “Durante a pesquisa, descobri que eu conhecia um senhor que era filho do seu Almiro Teófilo Costa [primeiro proprietário da casa de Antenor]. Conversei com ele, e ele me falou que ali era a Povoação Morro dos Conventos. E quando a gente foi ver a documentação, descobrimos que de fato existia. Daí ele começou a contar que nasceu, inclusive, na residência que hoje é do Antenor”, acrescenta Prado.

Durante as pesquisas, os dois amigos também descobriram que havia, na Povoação Morro dos Conventos, oito famílias, além de um cemitério, dois armazéns, uma casa de baile e, até mesmo, uma cartomante. “Eu conversei com o Antenor para acharmos algum livro de história sobre Araranguá para ver se descobríamos essa comunidade. Nisso, pegamos uma das obras que tinha uma parte que falava especificamente da povoação e tinha um depoimento do Antônio Teófilo, que é o irmão do Almiro, que vendeu a casa para o Antenor”, enfatiza o oficial.

Caminho dos Conventos

Quanto mais pesquisavam sobre o antigo vilarejo, novas informações, até antes desconhecidas, chamavam atenção. “Descobri que atrelada à povoação, também vinha a história do Caminho dos Conventos. Naquela região de Araranguá, a civilização começou com duas tribos indígenas, só que com a descoberta do Brasil, teve o deslocamento de outras populações”, pontua Prado. “No século XVII, eles perceberam que o Rio Araranguá, entre outubro e março, atingia uma profundidade que permitia a entrada e saída de embarcações grandes no canal. Por conta disso, a localidade de Conventos entrou na rota de interesse dos tropeiros”, completa.

Em meio à curiosidade em encontrar novas informações, os dois amigos conseguiram um mapa da Marinha dos Estados Unidos, de 1938, na área que era conhecida por ser a Povoação Morro dos Conventos. “Com base em declarações de pessoas mais idosas que conheceram a localidade, nós conseguimos reproduzir o que seria a povoação. Onde tem a casa, a balsa, onde era a bodega, a cartomante. Ou seja, todo o vilarejo”, comenta o oficial.

Com o passar dos anos, o que antes era a Povoação Morro dos Conventos, passou a ser tomada pela vegetação. Poucos indícios se mantiveram. “Hoje, ali na localidade, é possível ver ruínas. Tem um poço também. O resto tudo já foi desmanchado. Hoje, a única memória do nascedouro de Araranguá, é através da casa do Antenor. E os herdeiros, as pessoas falaram que nasceram nessa residência. Toda essa pesquisa, acabou nos trazendo curiosidade e interesse”, pontua Prado.

As informações levantadas pelos dois amigos, Ricardo e Antenor, são de 1938 até a atualidade. Mas, estima-se que a área começou a ser povoada com a abertura do Caminho dos Conventos, em 1728.  “O que estamos pensando em fazer, no futuro, porque na curiosidade a gente acabou levantando todas essas informações que são uma riqueza histórico-cultural muito importante que está se apagando, é encaminhar à Câmara de Vereadores de Araranguá para que seja reconhecida a Povoação Morro dos Conventos e até erigido algum monumento em homenagem para fixar o nascedouro do município”, enfatiza Prado.

O que começou apenas por um interesse burocrático, agora, pode contribuir com a preservação de uma parte da civilização de Araranguá. “Nós nos sentimos na responsabilidade de perpetuar essa história e levar para frente. Por isso, ainda vamos encaminhar à Câmara de Vereadores. É uma história muito linda para ser esquecida e, infelizmente, passou despercebida pelo Poder Público, senão, eles já teriam tomado providência para manter viva essa história. Quis o destino que caísse na mão do Antenor essa propriedade e que ele tivesse essa inquietação de fazer a escritura pública dessa terra”, finaliza Prado.

O ofício à Câmara de Vereadores de Araranguá deve ser entregue nos próximos dias, solicitando o reconhecimento da área como Povoação Morro dos Conventos.

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