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sexta-feira, abril 19, 2024

Pedro Aujor deixa legado de cidadania

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“Só o último habitante da terra poderá andar sem máscara”, proferiu Pedro Aujor Furtado Júnior, juiz titular da 2ª Vara da Fazenda Pública de Criciúma, ao negar o pedido de um morador do município que não queria usar a proteção em locais públicos, no auge da pandemia, em 2020. O magistrado, após passar mais de um mês lutando pela vida no Hospital da Unimed, morreu ontem, aos 50 anos, em decorrência de complicações causadas pelo coronavírus. O velório foi restrito a familiares e amigos próximos.

Natural de Curitiba, no Paraná, o juiz deixa esposa e filhos. Quando jovem, Pedro Aujor mudou-se para Lages e ingressou na faculdade de Direito.  Em janeiro de 1998, iniciou o exercício da judicatura no Estado de Santa Catarina. Desde então, passou pelas comarcas de Videira, Blumenau, Araranguá, Sombrio, Jaraguá do Sul e, por fim, Criciúma, onde estava lotado na 2ª Vara da Fazenda Pública.

“Nosso Pedro não foi apenas o jurista insuperável, o magistrado brilhante, o profissional exemplar. Para nós, que desfrutávamos de sua convivência diária e amizade de décadas, Pedro era aquele tipo de pessoa com quem a gente senta para conversar e não quer que a conversa acabe, daqueles que, quando estão conosco, a gente pede que o tempo não passe”, lamenta o promotor de justiça do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) e amigo de longa data de Pedro Aujor, Alex Cruz.

Para o promotor de Justiça, Pedro Aujor foi, antes de tudo, um pensador além de seu tempo, um amigo incondicional e um ser humano encantador. “Nossas discussões e reflexões jurídicas, políticas, sociais, filosóficas, musicais e futebolísticas vão ficar em minha memória pelo resto de meus dias. Pedro era a sabedoria em pessoa e fonte de inspiração e aprendizado para todos nós. Agradeço a Deus por ter tido a oportunidade de haver, por tantos anos, desfrutado do convívio e da amizade desse lageano de coração maior do que mundo, flamenguista roxo e amigo como poucos”, completa Cruz.

“Grande amigo, parceiro e excelente juiz”

Rubens Salfer, juiz aposentado, também lamenta a morte do amigo, Pedro Aujor, com quem convivia há décadas. “Era uma pessoa sensacional. Pedro é da minha turma de magistratura. A gente tomou posse juntos e ele sempre se destacou no grupo, é uma pessoa fantástica. Tem uma experiência muito grande no Judiciário. Antes de ser juiz, ele atuou no Judiciário por mais de, pelo menos, uma década. Ele deve ter, com segurança, mais de 30 anos de experiência. Metade da vida dele foi dentro dos fóruns. Grande amigo, parceiro e excelente juiz, de memória impar, tanto que onde ele passou, se destacou”, comenta.

Em nota, o Foro da Comarca de Criciúma, por intermédio de seus juízes, lamentou a morte do titular da 2ª Vara da Fazenda de Criciúma. “Profissional destacado pela simplicidade, competência e carisma, para sempre inesquecíveis. Parte, deixando um legado de trabalho, certamente, inspirador a todos seus colegas. Que o conforto divino, em breve, possa recair sobre seus familiares e amigos e que sua passagem ocorra com muita paz, luz e serenidade”, diz um trecho.

O papel de Pedro Aujor, imprescindível na luta contra o coronavírus, foi citado pela Prefeitura de Criciúma, em nota de pesar. “Defensor do uso de máscara, como proteção contra a pandemia, “por uma questão de ética coletiva e para proteger sua família, vizinhos, amigos e todos com quem cruzar”, deixa um legado de cidadania, conhecimento e honestidade”, diz a declaração.

Em nome da OAB Subseção de Criciúma, o presidente da classe, Rafael Búrigo Serafim, também lamenta o óbito do magistrado. “A Ordem lamenta muito a morte precoce do Juiz Pedro Aujor, uma figura de grande importância à classe. Seremos eternamente gratos pela sua integra contribuição”, frisa.

O Legislativo criciumense também externa os sentimentos aos familiares e amigos de Pedro Aujor. “Magistrado vocacionado e humano, conhecido pela agilidade, clareza e sensatez de suas decisões. Em mais de uma década atuando na comarca de Criciúma, deixa laços fortes e de grande respeito com a comunidade”, diz a nota de pesar.

 “Bronca” a favor do uso de máscara

Em julho de 2020, Pedro Aujor chamou atenção após escrever um despacho durante um processo movido por um criciumense que queria poder andar por locais públicos sem utilizar a máscara, sendo que, a utilização é obrigatória, até então, como medida para conter a proliferação do coronavírus.

“Fosse o impetrante o último e único indivíduo morador de Criciúma (ou afinal o último habitante do planeta terra, uma vez que se cuida de pandemia e como o próprio nome sugere trata-se de uma epidemia global) não haveria o menor problema para que o mesmo circulasse livremente sem máscara e ficasse exposto à Covid-19 (ou a qualquer outra moléstia legal transmissível) por sua livre e espontânea vontade, uma vez que não transmitiria seus males para quem quer que seja. Mas não é esta a realidade”, escreveu no despacho, à época.

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