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sexta-feira, abril 19, 2024

Deficiente visual supera desafios e promove palestras motivacionais

Geórgia Gava

Cocal do Sul

Superação, apoio e força de vontade foram determinantes para a vida de Alexandre Rzatik, de 48 anos. O pedagogo, morador de Cocal do Sul, perdeu a visão ainda adolescente, em um acidente na escola que frequentava, em Criciúma. Apesar de todos os desafios impostos pela deficiência frente à sociedade, hoje, o profissional realiza palestras motivacionais sobre acessibilidade, integração e inclusão de pessoas cegas no mercado de trabalho e na educação.

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“O meu objetivo é que as famílias que têm crianças e adolescentes com deficiência na visão saibam lidar, porque recursos e oportunidades têm, o que está faltando é que o pai e mãe deem incentivo ao filho e leve para a escola, para as associações. Hoje, com as leis que estão nos favorecendo, é muito mais fácil buscar apoio para uma pessoa que ficou cega”, comenta Rzatik. A história de superação do pedagogo teve início em 1988, quando ele tinha apenas 15 anos.

Após o período de recuperação, um ano e meio depois do acidente, Rzatik retornou para a escola onde estudava, mas, a instituição não possuía recursos para pessoas cegas. “Fui encaminhado para o Colégio Sebastião Toledo dos Santos, mais conhecido como Colegião. A partir daí, começou uma nova fase da minha vida. Até então, à época, eu pensava que o único cedo era eu”, conta o pedagogo.

A inserção dentro da alfabetização braile levou pouco mais de um ano e foi determinante para os estudos de Rzatik. “Eu nem imaginava como seria aquilo, é leitura e escrita por pontos. Mas, eu comecei só para tentar ingressar nos estudos de novo e não ficar pensando no que aconteceu, já que eu era um adolescente muito agitado”, acrescenta. “Os primeiros meses, escrevia naturalmente, não largava a caneta e o lápis. Depois, não fazia mais sentido. Porque eu escrevia, mas não podia ler”, completa.

Depois de aprender o braile, o pedagogo voltou para o ensino regular. “Aí sim, começou uma nova realidade, mas veio outro desafio, que é a questão de orientação e mobilidade. Com muito apoio dos professores, eu dei de frente com a sociedade, que discriminava muito. Foi um desafio muito grande. Então, eu não baixei a cabeça, porque tinham mais pessoas na mesma situação que eu”, enfatiza Rzatik. “Me formei no Colegião e fui o primeiro cego a fazer estágio”, complementa.

Depois de concluir o ensino médio, Alexandre parou de estudar por algum tempo. “Um certo dia, andando no centro de Criciúma, encontrei uma ex-professora, que me ofereceu um cursinho pré-vestibular para eu tentar a faculdade. Topei, fiz seis meses. Quando chegou o vestibular, peguei minha máquina de escrever em braile e fui. Estava nervoso. Fiz a prova totalmente oral, porque não havia equipamento para ser feito de outra forma. Só a redação fiz em braile”, pontua.

Alexandre passou em quarto lugar e, à época, tinha sido o único cego, na história da Unesc, a participar do vestibular. “Foi uma festa. Entrei no curso de Pedagogia, por indicação dessa minha ex-professora. Durante um semestre e meio, as minhas avaliações foram somente de forma oral, então, toda a minha inibição eu perdi na faculdade, graças aos professores que me deram chance de ser livre, sem medo de errar”, frisa o pedagogo.  Rzatki também é pós-graduado em Educação Especial e Recursos Humanos.

Apoio de um cão-guia

Fundamental para o dia a dia do pedagogo, em 2000, Rzatki adquiriu um cão-guia. “Naquele tempo, no Brasil, não tinha. Só havia o escritório de uma escola norte-americana que se tornou referência mundial. O cão, no caso, viajava para os Estados Unidos, ou seja, era algo muito fora da realidade. Até porque, eu imaginava que o cão nem poderia fazer tanta coisa”, frisa o profissional.

Com pouco conhecimento à época, Rzatki passou por um treinamento junto ao guia e conseguiu o companheiro. “Eu viajei para os Estados Unidos, fiquei um mês lá para me habituar com o cão, uma labradora fêmea. Depois, começou uma nova história na minha vida. Eu entrava na Unesc com ela e o pessoal abria o canal para eu passar. Ela ficou 11 anos comigo”, comenta.

O pedagogo ficou dez anos sem um cão-guia, após a morte do primeiro companheiro. Entretanto, em 2020, deu início à procura novamente, mas, devido à pandemia, só neste ano teve retorno. “Eu decidi retornar a busca por outro cão-guia pela falta de acessibilidade nos municípios”, comenta. A Dakar, hoje, é a companheira de Rzatki. O dia a dia dos dois, inclusive, é tema de uma palestra promovida pelo profissional.

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