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quinta-feira, abril 18, 2024

Conscientização como instrumento para preservar a vida

Geórgia Gava/ Thiago Oliveira

Nova Veneza e Siderópolis

Na luta contra a extinção dos animais, bem como a preservação do meio ambiente, o Instituto Felinos do Aguaí, com sede em Siderópolis, é referência em todo o Estado. O projeto, de direito privado, não governamental e sem fins lucrativos, estuda e monitora cinco espécies que vivem na Reserva Biológica do Aguaí. A equipe, composta pelos idealizadores da iniciativa e também voluntários que se uniram a causa, atua junto à comunidade, buscando conscientizar para manter a área protegida. O trabalho vai além da prática, ele também consiste na educação ambiental, principal pilar para garantir a permanência da natureza.

O Instituto Felinos do Aguaí existe há mais de 15 anos. Ao longo desse período, a equipe formada por profissionais de diversas áreas que envolvem o meio ambiente, entre idealizadores e voluntários, dedica-se à conservação dos felinos silvestres, que estão entre as espécies mais ameaçadas em todo o mundo, bem como seus habitats. A sede do projeto fica em Siderópolis, mas a área de atuação compreende a toda a Reserva Biológica Estadual do Aguaí, de responsabilidade do Governo do Estado e a Área Particular de Preservação Ambiental de São Francisco.

Em Santa Catarina, há dez Unidades de Conservação, dessas, uma é a Reserva Biológica Estadual do Aguaí, que possui mais de 7,5 mil hectares de extensão. Foi por lá que iniciou o projeto Felinos do Aguaí. Entre as atividades desenvolvidas estão a pesquisa científica, educação ambiental e o envolvimento com comunidades, visando promover a conservação das espécies. O projeto atua nos municípios de Treviso, Siderópolis, Nova Veneza, Morro Grande, Bom Jardim da Serra e Criciúma e tem gerado resultados importantes para a preservação do meio ambiente.

“As atividades do Instituto Felinos do Aguaí se sustentam em três programas. O de Educação Ambiental, que é baseado na ecopedagogia, uma pedagogia voltada para dar mais sentido às atividades da vida cotidiana. Então, o que a gente faz é alinhar as pesquisas junto às comunidades. Também trabalhamos com eventos em datas comemorativas, palestras gratuitas para instituições de ensino, o próprio centro de educação ambiental e a trilha interpretativa na reserva”, explica a coordenadora do projeto, Micheli Ribeiro Luiz.

Entre as ações desenvolvidas também há a produção de material educativo para distribuir à população. “Também divulgamos as informações, porque nada adianta a gente produzir ciência se a gente não divulga para a comunidade”, acrescenta Micheli. “Também temos o programa de Pesquisa e Monitoramento da vida silvestre, que envolve as expedições e campanhas de captura científica, monitoramento dos felinos, da saúde deles, divulgações técnicas, entre outros”, completa a coordenadora do Instituto.

Recentemente, o Instituto expandiu e criou novas ações voltadas para a preservação e conscientização do meio ambiente. “O programa Saúde Ecológica a gente criou esse ano. Na verdade, a gente já trabalhava com ele, mas de forma pontual. A gente busca integrar a saúde humana, animal, vegetal e dos ecossistemas. Essa integração resulta na saúde ecológica. Se a gente trabalhar cada um deles de forma unida, conseguimos um trabalho com mais expansão e resultados e preenchendo todos os itens, como a natureza, o ecossistema, a população”, explica Micheli.

Devido ao aparecimento de animais domésticos dentro da reserva – o que gera alerta, pelo risco de transmissão de doenças, o Instituto também deu início a um trabalho educativo, com o objetivo de conscientizar os moradores do entorno. “Nós realizamos uma campanha, “Seres humanos e animais silvestres: vamos melhorar esse relacionamento?“, ela oferece castração gratuitas para cães e gatos para a população que vive próximo a essa área protegida. Isso para evitar que esses animais adentrem à reserva, levem doença, provoquem competição e predação desses animais”, pontua Micheli.

OS FELINOS NA RESERVA DO AGUAÍ

Já foram identificadas cinco espécies de felinos na Reserva do Aguaí, são elas: o leão-baio (Puma concolor); a jaguatirica (Leopardus pardalis), o gato-maracajá (Leopardus wiedii), o gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi) e o gato-do-mato-pequeno (Leopardus guttulus). Embora o trabalho realizado pelo Instituto seja essencial para a conservação dessa área e, consequentemente, dos animais que lá vivem, ainda há impactos que trazem risco.

As principais ameaças compreendem a caça ilegal para aproveitamento de sua pele, os animais que servem de presa e a predação de animais domésticos, que tem gerado conflito entre felinos e o ser humano. Se por um lado o cenário revela a vulnerabilidade dos felinos, por outro, portanto, reforça a urgência de sua preservação, através de ações que envolvem a conscientização da população e a valorização das espécies.

CAPTURA CIENTÍFICA

Atualmente, a equipe trabalha na captura científica de um puma, uma das espécies que existe na reserva. O trabalho requer paciência, habilidade e experiência. A expedição iniciou no dia 25 de maio e segue até hoje. O objetivo é capturar o animal, colher sangue para exames, avaliar a saúde e inserir um colar para monitoramento de dados suficientes para estudos mais específicos, como o de informações populacionais e soltar novamente na natureza. José Carlos dos Santos Júnior é fotógrafo, montanhista, pesquisador e um dos idealizadores do Instituto Felinos do Aguaí.

“O puma tem uma baixa densidade, naturalmente, não há muitos. Aqui dentro do nosso gráfico de pesquisa, a gente sabe que ele aparece aqui [na Reserva São Francisco] a cada 30, 40 dias. Desde o dia que chegamos aqui eles não passaram, então estamos em uma espera, que eles passem e, se passarem, que eles possam cair nas armadilhas, nós colocaremos o colar nele para ver o que ele faz da vida, onde passa”, explica o pesquisador. “A gente estuda eles há cinco anos, a gente sabe quem é o pai, a mãe, todos eles têm nomes, sabemos quem a gente quem capturar”, acrescenta.

Conforme Micheli, este é um trabalho a longo prazo. “São vários métodos, os mais simples e menos onerosos são os vestígios e as observações, as diretas quando a gente pode observar o animal e, as indiretas, quando se encontra pegada ou fezes. Esses são alguns métodos, tem também a armadilha fotográfica, que foi como a gente iniciou, a partir dessas a gente foi avançando e estamos inovando com a telemetria, que é um monitoramento a distância dos animais”, explica.

A radiotelemetria, citada por Junior e Micheli, é uma ferramenta utilizada para obter informações mais precisas sobre os animais, a fim de manejar essas espécies, com ela, é possível descobrir qual a localização do animal. “Atualmente, no país, nós somos o único projeto, até onde sabemos, que utiliza esse sistema em um ambiente montanhoso. Hoje, é muito mais fácil trabalhar com ela em uma planície, porque não têm obstáculos, interferências”, enfatiza a coordenadora.

Por isso a importância da equipe ter, em sua maioria, profissionais montanhistas. “O montanhismo é um grande facilitador do nosso trabalho, principalmente pelo acesso, sem eles dificilmente conseguiríamos adentrar nas montanhas como que eles adentram”, pontua a coordenadora do Instituto. “Se o profissional não tiver habilidade de montanha, um bom ouvido treinado, simplesmente não é possível realizar a radiotelemetria”, acrescenta.

Pela equipe do Instituto já foram colocados radiocolares – para avaliar os dados, em mais de dez animais, desses, em três gatos-maracajás já foi possível captar informações.  “Dos que a gente obteve resultados, percebemos que essa espécie está nas áreas de preservação, isso está evidente para nós, de que o animal utiliza esse território e que precisamos preservar”, explica Micheli. “A gente faz a avaliação da área de vida desses animais, quais os locais mais utilizados e o porquê. Esses dados são utilizados para criar planos de preservação, a gente consegue provar cientificamente que o animal está utilizada determinada área”, complementa.

 

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