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sexta-feira, março 29, 2024

A inspiração que fez pai e filho serem colegas de trabalho

Gustavo Milioli/Especial

Criciúma

Paulo Novelli foi o primeiro da família a entrar para a Medicina, ao passar no vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no início dos anos 80. Vindo de pais de origem mineradora, do interior de Siderópolis, ele pode vangloriar-se de ter trilhado um caminho diferente para o filho e para três de seus sobrinhos. Eles decidiram seguir o exemplo e hoje também atuam como médicos.

“Eu fui o pioneiro e servi de inspiração. Eles viram que a Medicina era um bom curso, que dá para fazer muitas coisas boas, ajudar muita gente, e ter um retorno financeiro bom, para ter uma vida tranquila”, afirma Novelli. Após se formar em 1988, ele trabalhou por 12 anos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São José, passou no concurso para ser médico-clínico da Prefeitura de Içara e, há 26 anos, fundou uma clínica que presta serviços na área da medicina do trabalho para empresas da região, a Ergomed.

O filho Maurício, formado pela Unesc, atua ao lado do pai na empresa desde que concluiu a residência em clínica médica, em Jaraguá do Sul. Desde cedo ele foi acostumado a observar o pai trabalhar em diversos plantões durante finais de semana e feriados. Alguns duravam até 36 horas ininterruptas. Nem por isso, perdeu o encanto pela profissão. O jovem conta que sempre teve a consciência de que seria médico.

“Ele sempre foi muito prestativo. Começou a ter o primeiro contato com a Medicina quando tinha 14 anos. Naquela época, eu fazia perícias judiciais médicas e tinha que datilografar. Era ele quem datilografava para mim, a gente ia discutindo os casos e ele começou a se interessar mais ainda”, destaca o pai. “Há dois anos, quando ele voltou para Criciúma, eu perguntei se queria fazer uma super especialização. Ele disse que não, que queria tocar a Ergomed comigo”, completa.

Maurício participa da administração e realiza atendimento junto às empresas conveniadas, percorrendo o mesmo caminho do pai, que já está em vias de aposentar-se. O experiente médico de 58 anos precisou começar tudo do zero. Chegou a ficar três anos sem ter um final de semana livre, no início da jornada. O filho não esconde a gratidão pelas condições que possui atualmente graças ao suor do pai.

“Ao contrário do que o pai fazia, de virar a noite, eu prefiro ter um horário fixo, e trabalhar o máximo possível em período comercial. Eu vou ganhar menos, mas o suficiente para me manter com um custo de vida menor. É uma visão diferente, mais minimalista. Para o pai tudo foi mais difícil, porque ele tinha que adquirir casa, carro, e ajudar os pais dele. Eu agradeço muito a ele pela oportunidade de já estar no meio do caminho”, ressalta Maurício.

Novelli observa que o filho não tem ganância pelo dinheiro. “O Maurício não tem o objetivo de ser muito rico, ele quer ser muito feliz. Hoje, depois de passar por tudo o que passei, eu vejo que ele está coberto de razão”, comenta. Novelli está satisfeito com o profissional que ele gerou. “Se não fosse por ele, eu precisaria contratar pessoas de fora para assumir a responsabilidade de administrar a empresa”, pontua.

O ‘despertar’ de Maurício para a carreira que ele seguiria futuramente aconteceu ainda antes do que ele pudesse se lembrar. “Uma vez, no prézinho, ele tinha cinco anos e as professoras fizeram o dia da profissão. Eu nem sabia, quando cheguei lá ele estava de jaleco branco e estetoscópio. Foi quando eu vi que ele ia”, recorda Novelli. “Meu pai é um grande exemplo também como pessoa. É o cara”, resume o jovem de 28 anos.

Inspiração também na música

A história de pai e filho também é baseada nos acordes musicais. Apaixonado por cantar e tocar, Novelli conseguiu fazer com que Maurício nutrisse o mesmo sentimento pela expressão musical.

Os dois cantaram juntos por muito tempo em confraternizações entre amigos. Antigamente, Novelli mantinha a banda Terapia, ao lado de outros amigos médicos. O repertório contemplava diversos estilos da música nacional, desde rock, até axé.

“Uma vez eu consegui um CD com todas as músicas gravadas pelos Beatles. Coloquei em casa para tocar e o Maurício já conhecia todas”, atesta o pai. O avô da família foi o precursor, e fez com que todos continuassem com o mesmo gosto. Novelli chegou a comprar um estúdio completo para gravar as canções. “Produzimos até um CD, com 18 músicas. Era a nossa terapia para aliviar o estresse do plantão”, conta.

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