Geórgia Gava
Treze de Maio
Um passo largo foi dado rumo ao desenvolvimento em Treze de Maio. Há mais de quatro décadas, a comunidade de Rio Vargedo aguarda pela pavimentação asfáltica da rodovia Félix Simon, que possui uma extensão de 7,89 quilômetros. O asfalto que será implantado no trajeto, além de contribuir com a logística da localidade, abre espaço para uma vocação ainda pouco explorada no município: o turismo histórico-cultural. Na semana passada, a ordem de serviço foi assinada pelo governador Carlos Moisés para dar início à obra.
A empresa contratada pelo Estado já começou os trabalhos na rodovia Félix Simon. O trecho é dividido em duas partes, uma com extensão de 5,40 quilômetros e a outra com 2,85 km. Além da pavimentação, estão previstos serviços de drenagem pluvial, sinalização viária e a construção de uma ponte de duas vias em concreto armado. A obra conta com um investimento de R$ 10,34 milhões.
Mansões centenárias
Ao longo do trecho que receberá a pavimentação, inúmeras mansões quase centenárias, inspiradas nas de Vêneto, na Itália, carregam a cultura e história dos seus antigos proprietários. A maioria das residências, inclusive, se mantém preservada, já que muitos familiares descendentes ainda moram na localidade. Esse é o caso da neta de Félix Simon – que leva o nome da principal rodovia municipal da comunidade, Cátia Simon Gislon.
Hoje, junto ao marido, Cátia vive na residência que era de seu avô. “A família Simon chegou ao Brasil por volta de 1879 e se instalou na comunidade de São Pedro, em Urussanga. Meu avô era o nono, de dez irmãos, e nasceu em 1887. Em 1917, ele migrou para Rio Vargedo com sua esposa, Catarina Bom Simon. Residiam em uma casa de madeira e, posteriormente, construíram a nova sede onde moramos até hoje. Meu pai, Jaime Simon, é o proprietário”, explica a neta.

A residência dos Simon – naquele tempo uma verdadeira mansão, foi construída em 1935. E, à época, era destaque na comunidade. “Foi a primeira casa, talvez a única, a ter energia elétrica que era gerada por dínamo, ou seja, uma pequena usina tocada pela roda d’água do engenho da família. A estrutura era um ponto de curiosidade e referência para quem transitava à noite na estrada, pois avistavam ela toda iluminada”, acrescenta Cátia. “Meu pai, o filho mais novo, e muitos netos, nasceram nessa casa. Minha nona Catarina era parteira”, completa.
Para Cátia, a pavimentação será determinante para dar impulso à região. “Além de melhorar a logística, pois esta via liga os dois municípios, Treze de Maio e Morro da Fumaça, ela irá contribuir de maneira decisiva para o desenvolvimento da comunidade, através da mobilidade, escoamento de produção, visibilidade e, por consequência, o desenvolvimento turístico local”, enfatiza. “Veja bem, a nossa região tem um grande potencial turístico seja na área religiosa ou no ecoturismo rural. Pensa: “o caminho da imigração”, com todas essas referências históricas que estão a nossa disposição”, complementa.

Além disso, as residências terão mais visibilidade e, consequentemente, a história local também. “Finalmente, com esta obra, as casas poderão permanecer mais abertas, porque em virtude de toda poeira causada pelo alto fluxo do tráfego de carros e caminhões, as casas permanecem com as janelas fechadas. São muitas as expectativas a partir dessa grandiosa pavimentação que, de fato, trará desenvolvimento para a nossa região, mas, acima de tudo, qualidade de vida para os moradores de Rio Vargedo”, finaliza Cátia.
Para o historiador natural de Treze de Maio, Roque Salvan, o município precisa focar em uma nova atividade que gere renda aos moradores. “Eu imagino que, com a pavimentação, ali será uma oportunidade para quem queira empreender na parte de turismo. Essas casas antigas são propícias para criar um ambiente rústico, com a etnia da cidade, que é a italiana. É só saber explorar”, comenta.
Salvan possui um acervo exclusivo da localidade, com imagens e histórias ligadas à região, sobretudo, ao município Treze de Maio. “Essa é uma comunidade mais que centenária, a de Rio Vargedo”, pontua.
Como são as antigas casas
Conforme as pesquisas do historiador, as antigas residências dos imigrantes eram compostas por uma área social, onde ficavam os quartos e a sala. E, na parte superior, o sótão. Também havia um espaço separado para a cozinha e, aos fundos, mais retirado, o estábulo.
A cozinha sempre ficava separada da casa para prevenir incêndios. Nas propriedades, também havia paióis, onde se guardavam as reservas, cereais, equipamentos e ferramentas. Algumas também possuíam as estrebarias, galinheiro, chiqueiro, engenho de cana, atafona, moinhos e poço d’água.
“Quarto de núpcias”
Comum em algumas residências antigas, o chamado “quarto de núpcias” era utilizado por recém-casados, que ficavam morando por algum tempo com os pais após a cerimônia. Na casa de Félix Simon, o ambiente ainda existe, mas, hoje, é utilizado pela neta, Cátia, e o marido.

Uma vitória para a comunidade
Morador de Rio Vargedo desde que nasceu, o empresário Daniel Sartor considera a pavimentação da rodovia Félix Simon uma vitória. “É uma reivindicação bem antiga, visto que havia muita poeira e buraco no trajeto. Por mais que a prefeitura sempre tentou manter a estrada em boas condições, por ser bem movimentada, muitas vezes eles faziam a manutenção, dava um temporal, e todo o trabalho ia por água abaixo”, pontua.
Para o empresário, o desenvolvimento de qualquer cidade passa pela pavimentação das ruas. “Treze de Maio é um município tipicamente do interior, com grandes belezas naturais. Tem o Castelo Belvedere, que já é frequentado e conhecido na região. Acredito que, com a vinda do asfalto, vai fortalecer e contribuir ainda mais com esse turismo de visitação, religioso e o cicloturismo. Então, veio em uma boa hora, a região merece”, detalha Sartor.
Algumas mansões antigas:


